O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o empresário Ricardo Faria, conhecido como ‘rei do ovo’, desconhece a realidade do país ao dizer que há brasileiros viciados no Bolsa Família.
Ao C-Level Entrevista, novo videocast semanal da Folha, Haddad defendeu o programa de transferência de renda do governo federal e pontuou que os beneficiários estão sendo empregados. Ele descartou a necessidade de reajuste no valor do benefício.
“É um desconhecimento da realidade brasileira. Uma falta de percepção do que é a vida das pessoas no Brasil. Não é como ele fala. Nós temos um programa que nos honra muito”, afirmou Haddad.
O ministro rejeitou a avaliação do empresário, dono da multinacional Global Eggs, que em entrevista à Folha disse que é um desastre contratar no Brasil por causa dos viciados no Bolsa Família.
“Tratar dessa maneira o cidadão, na minha opinião, não corresponde à realidade do Brasil. O que está acontecendo é que as pessoas estão sendo empregadas. Nós estamos gerando emprego. A renda do trabalhador está aumentando acima da inflação. O desemprego está na mínima histórica. Agora, se nós ficarmos recusando essas evidências, são dados da economia real. Ninguém está inventando um número aqui”, ponderou.
O ministro reconheceu, no entanto, a necessidade de fazer calibragem nos programas sociais, corrigir os seus cadastros e impedir a judicialização que acontece hoje para a concessão dos benefícios. “Tudo isso faz parte do dia a dia do governo. Nós estamos buscando, inclusive, apoio do Congresso para fazer isso.”
Haddad avaliou que a falta de reajuste do salário mínimo (acima da inflação) em governo anteriores acabou desestimulando os beneficiários do Bolsa Família a buscarem emprego formal. A razão, segundo ele, é que diferença entre o o valor do salário mínimo e o do Bolsa Família encurtou.
“A valorização do salário mínimo tirou muita gente do Bolsa Família para uma situação melhor. O contingente de pessoas que estão empregadas hoje, que não estavam no período anterior, é muito grande”, justificou.
Para ele, essa calibragem é fundamental para melhorar as condições de contratação no mercado de trabalho. “É por isso que tanto a política de valorizar o salário mínimo quanto de reajustar a tabela de isenção do Imposto de Renda vai na direção de fazer com que as pessoas aproveitem as oportunidades de trabalho que estão abertas, nem sempre encontrando alguém para preencher a vaga”, afirmou.
Haddad sinalizou que o valor do benefício do Bolsa Família não precisa de reajuste em 2026 porque está dentro do patamar do compromisso internacional assumido pelo governo brasileiro no Plano Internacional de Ação Global de Combate à Fome que estabelece um valor em dólares.
Já o aumento do valor do benefício em 2026, ano de eleições presidenciais, é esperado por aliados políticos do presidente Lula (PT). Por outro lado, é motivo de preocupação de analistas do mercado financeiro pelo impacto potencial nas contas públicas.
Parlamentares da oposição ao presidente criticam ainda medidas aumento de arrecadação por entenderem que o governo quer turbinar o programa na busca da reeleição.
Em 2022, o então presidente Jair Bolsonaro aumentou o valor do Bolsa Família, chamado na época de Auxílio Brasil, na tentativa de ajudar a ganhar a eleição.