Não tem mais paz e amor para Fernando Haddad. Antes mesmo da derrubada do decreto do IOF, o ministro da Fazenda já vinha incorporando o novo perfil. Com a decisão do Congresso de cancelar a alta, ele assumiu de vez o figurino, que o aproxima da base petista.
O ponto de virada foi percebido na audiência na Câmara, quando travou um bate-boca com o deputado Nikolas Ferreira. Naquele momento, Haddad já enfrentava a rejeição à medida provisória alternativa ao IOF, após a reunião com lideranças partidárias na casa do presidente Hugo Motta (Câmara).
Sem acordo, a corda esticou ainda mais com a rebelião conjunta da Câmara e do Senado contra o novo pacote fiscal. O IOF caiu e a MP das novas medidas pode ir pelo mesmo caminho.
Na entrevista concedida ao C-Level, novo videocast semanal da Folha, Haddad dobrou a aposta no discurso contra os privilégios do andar de cima e comemorou o apoio de dois dos seus maiores críticos no PT: a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e o líder Lindbergh Farias.
Pregou também a retomada do diálogo —e vai precisar. Já no próximo dia 3, terá um novo teste na relação com o Congresso. É quando expira uma outra MP, aprovada pela Câmara, que amplia o escopo do Fundo Social do Pré-Sal, abrindo caminho para uma nova faixa do programa Minha Casa, Minha Vida.
A MP abrigou o conteúdo de projeto para elevar as receitas do governo com a venda de petróleo excedente. É uma peça central para aliviar o Orçamento.
Caso aprovada pelo Senado, o governo poderá incorporar uma previsão de receita compensando a perda de R$ 12 bilhões com a suspensão do decreto. Cai o IOF e entra mais ou menos na mesma ordem de grandeza a receita com o óleo do pré-sal.
Se a MP expirar, aumenta o congelamento de despesas, que atinge as emendas parlamentares e paralisa a faixa 3 do MCMV.
O governo precisa sancionar a MP até o dia 3. Se o presidente Davi Alcolumbre (Senado) barrar, o boicote ao governo entrará numa nova escala de gravidade. Aguardando as cenas do próximos capítulos.