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Senna Tower: precisamos furar a bolha, diz CEO – 27/06/2025 – Mercado

A FG Empreendimentos furou a bolha dos arranha-céus de luxo da orla de Balneário Camboriú (SC) com o lançamento do Senna Tower, prédio que promete ser o residencial mais alto do mundo. A altura final ainda é um mistério, mas a companhia promete que ele ultrapassará os 550 metros.

E como era de se imaginar, a novidade dividiu a torcida: de um lado estão os que acharam o projeto um monumento à cafonice, do outro os que gostaram da ideia de ter um prédio nessas proporções com a marca Senna estampada no alto.

CEO da FG, Jean Graciola, 45, quer pensar adiante e mudar a forma como são feitos os prédios no Brasil, alinhando o que existe de mais tecnológico na engenharia norte-americana, árabe e asiática —os únicos que constroem os chamados super talls, prédios que superam os 300 metros de altura.

“Já entregamos empreendimentos de 300 metros de altura, o know-how da parte construtiva, a gente já tem. Agora [para prédios mais altos] a gente precisa buscar um ecossistema de parceiros, tem que ir furando a bolha”, disse à Folha.

Além da parte mais óbvia que é o tamanho do edifício, o Senna Tower carrega um conceito que mistura muito do lado espiritual e místico de Ayrton Senna, morto há 31 anos, com a ambição de vencer seus limites, conceitos que permeiam o imaginário do brasileiro.

Ter como sócio do empreendimento o empresário Luciano Hang, dono de 50% do terreno e amigo de longa data dos Graciola, é mero ingrediente neste caldeirão de assuntos que povoam a construção do Senna Tower.

Como surgiu a ideia de levantar um edifício com o tamanho do Senna Tower?

Em 2007, fomos convidados para conhecer empreendimentos no Panamá e aquela viagem abriu minha cabeça. Estamos construindo nossa história há 17 anos, são anos de busca, de aprendizado, de viagens para Singapura, Hong Kong, Panamá, Dubai. Naquele período, pouco antes de iniciarmos as viagens, terminamos um prédio de 100 metros de altura, e dali pra frente, começamos a criar um ecossistema para esse tipo de tecnologia e de normas técnicas.

A história do Triumph Tower [nome anterior do Senna Tower] veio de encontro com isso, de construir um prédio acima de 300 metros de altura, passando de tall para super tall. Estávamos estudando um empreendimento que ia chegar a 120 andares, algo em torno de 360 metros de altura. O projeto já estava em andamento quando um amigo me ligou e disse, ‘Jean, o pessoal da família Senna quer conversar com vocês’. Vieram aqui o Leonardo Senna, irmão do Ayrton, e um diretor da Senna Brands. Dali pra frente, fomos para São Paulo, nos encontramos com a Viviane no Instituto Senna e firmamos a parceria. O contrato estava fechado com a família desde 2020 e anunciamos em 16 de setembro do ano passado.

Ter a marca Senna atrai mais atenção ao negócio?

Sim. Conversamos com alguns namings, mas não assinamos contrato. O Ayrton Senna tem uma história no Brasil, um brasileiro que rompeu fronteiras, que sempre esteve à frente do seu tempo, que se superava a cada dia. Juntar o que a gente já vinha fazendo, que são empreendimentos de altíssimo padrão, extremamente tecnológicos, com a história e a marca do Ayrton Senna, foi muito importante para o empreendimento. Trouxe uma visibilidade muito grande para a FG e para Balneário Camboriú, obviamente.

A FG já era uma empresa com nome muito forte principalmente aqui na região sul e em Mato Grosso, na região do agronegócio. Somos uma empresa que constrói regionalmente, mas vendemos internacionalmente. O empreendimento tem todo um conceito por trás, feito a várias mãos, com as sobrinhas do Ayrton e nossa equipe de arquitetos. Ele conta a história do Ayrton, remete à história de vida dele, de superação, até o coroamento, onde ele se desmaterializa com o céu, como se ele fosse desse mundo aqui para um mundo eterno.

Qual será o valor geral de vendas do Senna Tower?

Nossa projeção é chegar a R$ 8,5 bilhões de VGV [valor geral de vendas]. Temos apartamentos que variam de R$ 28 milhões a R$ 300 milhões, que são as duas coberturas triplex. Com elas a ideia é fazer um leilão e estamos fechando parceria com a Sotheby’s. Perguntei ao CEO da célula deles aqui ‘por que o Brasil? Por que Balneário Camboriú? Por que Santa Catarina?’, e ele falou, ‘cara, em qualquer lugar do mundo tem ilhas que realmente vendem super bem, para o mundo todo. E no Brasil essa região é Balneário Camboriú’. Então, ainda não existe um preço limitador da cobertura.

Vocês fazem uma pré-avaliação do cliente. Qual é o objetivo desse filtro?

Para saber se não vem concorrente, se não vem especulador, se não vem gente querendo fazer preço, o mercado imobiliário exige um cuidado.

A apresentação demora duas horas, é muito completa em detalhes do empreendimento, detalhes técnicos, de conceito, conta a história do Ayrton Senna. É uma venda muito exclusiva, não tem tabela. A ideia é que o cliente fique tão impressionado que no final ele pergunte ‘onde é que eu assino?’.

O empreendimento foi concebido de uma forma bem democrática para que todo mundo pudesse visitar, não apenas os clientes. Vai ter dez restaurantes, área para eventos, área de kart elétrico, vão ter vinte simuladores. O plantão foi aberto ao público com uma memorabilia que reúne vinte e cinco itens. A Lotus do Senna está aqui. O troféu que ele ganhou na Fórmula 1 no Brasil, em 1991, está aqui. O macacão que ele utilizou, o passaporte dele está aqui em cima. Parece que ele está presente aqui, sabe?

Balneário ganhou visibilidade e está se estabelecendo como uma cidade de arranha-céus, brincam que é a Dubai Brasileira. Por que não construir em outra cidade que pudessem ganhar mais mercado?

Eu amo Dubai, acho maravilhoso, é um lugar que a gente aprendeu muito. A cada dois anos tu tem que ir lá visitar, porque as coisas mudam bastante. Mas Dubai não tem Mata Atlântica, não tem neve a três horas daqui de carro, não tem um litoral com mais de 152 praias. A gente sempre fala em Balneário Camboriú, mas toda a região do litoral norte de Santa Catarina está crescendo muito.

Passamos por vários momentos de crise e aprendemos com isso. A pandemia foi um momento muito difícil para todo mundo. Em outubro de 2020, a empresa tinha 20 anos e foi nosso segundo melhor mês de vendas. As pessoas estavam buscando pequenas metrópoles que tenham vida o ano todo, 24 horas por dia, que pudessem ter qualidade de vida, segurança e lazer. As famílias começaram a investir muito mais. Em 2010, 80% dos clientes compravam para investimento, ficavam dois anos e vendiam. De 2018 para cá, 80% compra como primeira ou segunda casa e só 20% como investimento.

O Luciano Hang é investidor do Senna Tower?

Sim, conhecemos o Luciano e a família Hang em 2005. Convidamos ele, em 2007, para participar da compra de três terrenos, cada um entrou com 50% [do valor]. Ele não é sócio da empresa. Pela legislação, cada terreno é uma SPE [sociedade de propósito específico]. Temos 85 terrenos, cada um deles é um CNPJ, e ele [Hang] participa de três, uma que já foi entregue e uma que será o Senna Tower. Inicialmente, ele ficou em dúvida se iria entrar como parceiro ou se seria permutante, mas aceitou se tornar parceiro.

É uma parceria muito sadia. Somos uma empresa familiar, mas temos governança aqui, ele também é uma empresa familiar e tem governança lá. Somos auditados pela mesma empresa, que é a Ernst & Young. Somos famílias com o mesmo propósito. Foi assim com a família Senna. No começo foi uma questão negocial, mas hoje é muito mais do que isso, é uma união de propósitos e valores.

Ele entrou com dinheiro no negócio então?

Se precisar, sim. Ele é sócio da SPE, temos reuniões mensais de conselho, apresentação de resultado, mas temos um acordo de cotização muito claro, com o que cada um faz. Inicialmente, para aprovar o projeto, precisou botar aportes de outorgas, o valor é reinvestido na infraestrutura da cidade. Só nesse empreendimento são R$ 150 milhões. No começo ele fez esse aporte, mas, obviamente, se precisar, tem que fazer de forma igualitária.

Como é trabalhar uma estrutura de prédio deste porte? A FG possui expertise em edifícios altos, mas superar os 500 metros exige técnicas diferentes, não?

Já entregamos empreendimentos de 300 metros de altura, o know-how da parte construtiva, a gente já tem. Agora, para o super tall a gente precisa buscar um ecossistema de parceiros, tem que ir furando a bolha. Quem participou de todo o projeto de fundação do Senna Tower, foi o Harry Poulos, um dos responsáveis pela fundação do Burj Khalifa [atualmente o maior prédio do mundo, em Dubai]. Tenho um corpo técnico que viaja direto fazendo parcerias na Europa, na Ásia, e tenho uma diretora executiva que cuida de uma empresa nossa chamada Talls Solutions, consultoria que é resultado de 17 anos indo atrás de tecnologia e inovação no mundo todo. Essa empresa se especializou em prédios altos e estamos levando a solução para o Brasil todo, porque em vários lugares do país foram criados masterplans com prédios altos.

Só nesse empreendimento [Senna Tower] foram seis anos de estudo. Temos professores de faculdades daqui que trabalham só analisando o concreto, se é mais elástico ou mais duro. O pessoal da ArcelorMittal, que vai fazer a parte de fundação, veio com várias ideias. Cada empresa traz pessoas e tecnologia das suas empresas para participarem desse grupo.

O prédio deve superar os 550 metros, mas quanto será afinal?

É um prédio artístico, tem conceito, conta a história do Ayrton Senna. E aquela questão da desmaterialização com o céu, estamos fazendo placas espelhadas que, aonde o sol bater, ele vai refletir de formas diferentes. Então ele pode ter um metro a mais, um metro a menos. Isso aí não muda no cálculo estrutural porque é uma estrutura metálica leve. Ao todo, equivale a um prédio de 157 pavimentos.

O que vem depois disso para a FG? O plano é migrar para os super talls ou retomar a linha do que era feito antes?

Nosso planejamento estratégico é de cinco anos, temos muito pé no chão, é uma empresa que trabalha de forma perene e sustentável. Meu pai [Francisco Graciola] é presidente do conselho, eu sou presidente da empresa. Meu pai é um cara muito de visão, eu sou de gestão, então, no dia a dia, a gente se complementa muito. Nós temos vários empreendimentos pela frente nos próximos três anos. Eu vou ter empreendimento com outros namings [projetos com nome de marcas], empreendimentos mistos de hotelaria, residenciais, um open shopping de 80 pavimentos no coração de Balneário Camboriú, com lojas viradas para a rua. E a ideia é trazer marcas de luxo, Dolce & Gabbana, Louis Vuitton, Gucci, Hermès. A gente precisa trazer essas marcas para cá. Já estou em conversa com várias delas, tem muito interesse.


Raio-X | Jean Graciola, 45

Há mais de 30 anos no mercado imobiliário, trabalhou desde cedo nas empresas da família em Blumenau e fundou a FG Empreendimentos com seu pai, Francisco, para atuar na expansão de Balneário Camboriú.

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