A juventude é um mal que o tempo cura. E o ESG (sigla para boas práticas de governança ambiental, social e corporativa) conseguiu a proeza que só o calendário permite: deixou de ser uma novidade. Com o tempo, o tema se livrou do que era moda (os slides com imagens de mudas de árvores e frases de efeito) e permaneceu naquilo que realmente gera impacto.
Nesse ponto, é preciso dar um pouco de crédito (não de carbono) à tal onda antidiversidade ou anti-woke, que ganhou megafones com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Pense comigo: ela tirou a maquiagem marqueteira de muitas empresas ao redor do mundo, deixando o cenário mais claro. Agora está mais fácil enxergar quem está fazendo algo de verdade.
Quem não está fazendo algo real em relação à adequação a boas práticas ESG, está apostando contra seu próprio crescimento. Recebi uma pesquisa feita pelo site de vagas de empregos Infojobs segundo a qual 7 a cada 10 profissionais LGBTQIAPN+ já desistiram de ofertas de trabalho por não se sentirem seguros em relação à cultura da empresa.
A sigla pode parecer uma sopa de letrinha para você. É a evolução do antigo GLS (de gays, lésbicas e simpatizantes), feita para incluir mais gente (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais, pansexuais, não binários e outras identidades de gênero e sexualidade fora do padrão cis-heteronormativo).
Tem muita letra, porque tem muita gente. De todo esse exército de pessoas, 70% já abriram mão de trabalhar em alguma companhia por falta de uma política clara de inclusão. Inverta a lógica e veja quantas empresas estão perdendo mão de obra que sequer entra pela porta, por não enxergar um bom caminho ali dentro.
Ainda pela pesquisa, 72,7% dos profissionais LGBTQIAP+ disseram já ter sofrido preconceito no ambiente de trabalho. A maioria, mais de uma vez. Novamente, possíveis talentos sendo desperdiçados pela incapacidade das companhias de criar um ambiente de desenvolvimento pleno.
O S do ESG é para isso também. Não é uma “boa ação” por parte do empregador, é a chance dele de ampliar a diversidade (tão importante quanto a diversificação) na empresa. Novos pontos de vista, novos mercados, novas abordagens, seguirão inéditas pela pura falta de espaço.
E isso não sou eu que estou dizendo, um estudo da gigante consultoria internacional McKinsey intitulado “Diversity matters even more: The case for holistic impact” (“A diversidade importa ainda mais: o argumento pelo impacto holístico”, em tradução livre) traz números importantes para a mesa.
Pelo estudo, empresas no topo do ranking em diversidade de gênero nas equipes executivas têm 39% mais chance de apresentar desempenho financeiro acima da média do que aquelas no fim da lista. A mesma diferença é notada no caso da diversidade étnica e cultural.
Não adianta citar o modelo de meritocracia pura como uma lógica cartesiana para a valorização dos funcionários e de um ambiente de amplo desenvolvimento. Os talentos que sequer se inscrevem para as vagas vão terminar na concorrência.
Se você acha que isso é “lacração”, boa sorte com seu ativismo, porque de economia você não entende nada. Como investidor, a pauta da diversidade deixa boas pistas de quem está mirando o crescimento.