A maioria das empresas não financeiras do Brasil avalia que a política comercial dos Estados Unidos afetou suas atividades. O aumento da incerteza foi citado por 78,1% dos participantes da pesquisa Firmus, divulgada pelo Banco Central nesta segunda-feira (30).
Poucas companhias, contudo, dizem ter sentido efeitos diretos, como alta nos custos de insumos importados (27,8%) ou concorrência com importados (25,7%). Ao todo, foram 187 respostas completas coletadas entre os dias 12 e 30 de maio.
Em junho, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC ressaltou que o ambiente externo continua “adverso” e “particularmente incerto”, em razão da política econômica dos EUA.
No dia 2 de abril, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma alíquota linear de 10% sobre produtos comprados de outros países, inclusive do Brasil.
Antes, o país já tinha sido afetado pela cobrança de tarifas de 25% sobre importações de aço e alumínio. O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço ao mercado americano. Em junho, os EUA resolveram dobrar a alíquota aplicada ao setor, saltando de 25% para 50%.
Em outra pesquisa trimestral conduzida pelo BC, bancos, cooperativas, instituições de pagamento, gestoras de recursos, seguradoras e entidades fechadas de previdência complementar apontavam que a guerra tarifária aberta pelos EUA colocava o cenário internacional como o principal risco à estabilidade financeira para os próximos três anos.
A Firmus mostrou também uma leve melhora na percepção das empresas sobre a situação econômica brasileira atual na comparação com o primeiro trimestre do ano, com redução do sentimento “discretamente negativo”. Essa, contudo, continua sendo a percepção predominante entre os participantes da pesquisa –43,9%, ante 50% em fevereiro.
As estimativas das companhias para inflação estão em linha com as projeções captadas pelo boletim Focus, que conta com a participação do mercado financeiro.
A mediana das expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano permaneceu em 5,5% –acima do teto da meta perseguida pelo BC (4,5%). No Focus, a projeção para inflação de 2025 estava em 5,46% em 30 de maio –no último dado disponível, a estimativa recuou para 5,2%.
Para 2026 e 2027, tanto as empresas não financeiras quanto o mercado financeiro esperam que a inflação termine em 4,5% e 4%, respectivamente.
A mediana das expectativas das empresas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano permaneceu estável em 2% no período analisado. Na semana passada, o BC voltou a elevar para 2,1% a sua projeção de avanço da economia brasileira para 2025.
O BC fez, em novembro de 2023, a primeira pesquisa piloto para testar o questionário. Na amostra inicial, foram selecionadas cerca de cem empresas, sendo as maiores companhias de cada setor da atividade econômica (exceto dos setores público e financeiro).
Segundo a autoridade monetária, a Firmus tem como objetivo “captar a percepção de empresas não financeiras em relação à situação de seus negócios e às variáveis econômicas que podem influenciar suas decisões.”
Na fase piloto, o BC pretende “avaliar a clareza e a eficácia de diferentes tipos e formulações de perguntas, além de expandir o número de respondentes.” Até o momento, foram realizadas sete rodadas da pesquisa.