Por meses vem se especulando que o gigante energético britânico BP poderia ser adquirido por um concorrente. Seus retornos medíocres e o baixo preço das ações tornaram a empresa um alvo tentador para aquisição.
Um acionista ativista acumulou uma participação significativa na BP e pressionou a empresa a vender ativos para levantar dinheiro, e analistas do setor começaram a questionar quanto tempo levaria até que toda a empresa estivesse à venda.
A situação chegou ao auge na quinta-feira (26), quando a Shell, rival local da BP, foi forçada a negar notícias a respeito de conversas de fusão entre as duas empresas.
A BP, que continua sendo uma das maiores empresas de energia do mundo, está começando a tomar medidas para aumentar seu apelo aos investidores, incluindo corte de custos e fortalecimento das operações de petróleo e gás que produzem o dinheiro para financiar os grandes pagamentos de dividendos.
No entanto, a empresa pode ter dificuldades para se livrar da impressão de que é uma empresa problemática prestes a perder o controle de seu próprio destino.
“Não esperamos que a declaração de hoje interrompa isso”, escreveu Ashley Kelty, analista da Panmure Liberum, uma empresa financeira de Londres, em uma nota aos clientes na quinta-feira, referindo-se à negativa da Shell de que havia abordado a BP para uma possível aquisição.
A situação da BP representa uma grande reversão para uma empresa que já foi uma das mais aventureiras e predatórias da indústria petrolífera.
No final do século passado, o CEO da BP na época, John Browne, ajudou a liderar uma onda de fusões com negócios que valiam dezenas de bilhões de dólares para empresas como Amoco e Arco, dois grandes produtores de petróleo dos EUA. Browne também esteve na vanguarda da incursão de empresas de energia ocidentais na Rússia.
Sob os sucessores de Browne, no entanto, a BP foi desviada de seu curso por uma série de contratempos e situações piores, incluindo a explosão da plataforma de perfuração Deepwater Horizon em 2010, que causou um grande desastre ambiental no Golfo do México e matou 11 pessoas. Isso ainda assombra a empresa, que continua pagando cerca de US$ 1 bilhão por ano em indenizações.
“A BP perdeu seu rumo nos últimos anos”, escreveu Kelty, que também é ex-funcionário da BP.
A série mais recente de erros seguiu-se à nomeação de Bernard Looney como CEO em 2020.
Looney iniciou uma reformulação radical das atividades da BP em direção a uma energia mais limpa, que alguns investidores e analistas aplaudiram. Seu plano incluía investir pesadamente em energia verde enquanto reduzia a produção de petróleo e gás natural.
O momento desse esforço provou ser infeliz. Os preços do petróleo, que haviam despencado durante a pandemia, subiram após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, tornando os objetivos da BP de reduzir a produção de petróleo um desestímulo para os investidores.
Ao mesmo tempo, preços mais altos de materiais e equipamentos e um aumento nas taxas de juros prejudicaram alguns projetos renováveis, como a energia eólica offshore, onde Looney fez algumas grandes apostas. Mais recentemente, o governo Trump praticamente eliminou os desenvolvimentos de energia eólica offshore nos Estados Unidos.
A BP já registrou baixas contábeis de US$ 1,1 bilhão em projetos de energia eólica offshore nos Estados Unidos.
“O experimento fracassado de quatro anos da BP destruiu a credibilidade e o valor de mercado”, escreveu Irene Himona, analista da Bernstein, uma empresa de pesquisa de Wall Street, em uma nota em maio.
Looney deixou a empresa em 2023 por não informar relacionamentos pessoais dentro da empresa. Seu sucessor, Murray Auchincloss, tentou estabilizar o negócio central de petróleo e gás, mas os investidores ainda não estão convencidos de que ele entende a necessidade de uma mudança decisiva.
Como diretor financeiro, ele foi um dos assessores mais próximos de Looney e frequentemente se juntava a ele em apresentações para investidores.
A BP já desfrutou de uma reputação como lar de exploradores habilidosos de petróleo e gás, mas reconstruir esse negócio após anos de negligência pode não ser fácil.
Himona afirmou que, nesta década, a empresa tem conseguido encontrar petróleo e gás suficientes para repor apenas cerca de 40% das reservas que extrai.
A BP também perdeu, ao menos temporariamente, uma grande parte do petróleo e gás registrado em seus balanços quando, em 2022, decidiu congelar sua participação de 20% na Rosneft —a estatal russa— após a invasão da Ucrânia.
O UBS estima que a relação entre dívida líquida e patrimônio líquido da BP no final do ano passado era alta, 83,6%, em comparação com 21,5% da Shell.
“O principal problema da BP é que ela está presa entre estratégias”, disse Raghavendra Rau, professor da Judge Business School da Universidade de Cambridge. A empresa precisa desenvolver uma abordagem “clara e consistente”, disse ele.
Apesar de seus problemas, a BP tem pontos fortes importantes. É uma das principais produtoras nos Estados Unidos, bem como no Azerbaijão, um importante exportador de gás, e no Iraque.
Mas se não conseguir sustentar o preço de suas ações, que caiu cerca de 20% no último ano, poderá parecer tão barata que se tornará um alvo cada vez mais tentador para uma aquisição ou desmembramento.
A Shell descartou fazer uma oferta agora sem o convite do conselho da BP ou uma oferta de terceiros. Mas uma aquisição criaria uma das maiores empresas de energia do mundo, com quase um quarto do mercado global de GNL, estima o UBS.
Na verdade, o tema da fusão dos dois gigantes já surgiu antes. Em seu livro “Beyond Business”, Browne, o ex-CEO, disse que havia conversado sobre um acordo com seu homólogo da Shell, Jeroen van der Veer, em 2004.
Por enquanto, no entanto, a Shell disse que vê uma aquisição como uma potencial distração de seu foco na racionalização das operações. Em maio, por exemplo, Wael Sawan, CEO da Shell, sugeriu que a recompra de suas próprias ações era uma opção melhor do que a maioria das aquisições.
“Queremos ser caçadores de valor”, disse. “Hoje, caçar valor, na minha opinião, é comprar mais Shell.”