/ Jul 05, 2025

Moda global do matchá sobrecarrega produtores no Japão – 03/07/2025 – Mercado

No coração de Los Angeles, os clientes desfilam pelo novo estabelecimento com prateleiras de bambu, tigelas de cerâmica e bules artesanais que oferece matchá, a atual estrela das bebidas saudáveis nas redes sociais e nas lojas de chá.

O matchá, um tipo de chá verde moído, está na moda, mas os produtores no Japão têm dificuldades para satisfazer a crescente demanda mundial. E as tensões comerciais adicionam incerteza aos consumidores.

“Dos 25 tipos de matcha [propostos], 21 estão esgotados”, assinala à AFP Zach Mangan, 40, fundador da empresa especializada em chá Kettl, que abriu este ano uma loja na megalópole californiana.

Em seu estabelecimento, o matchá pode ser servido com leite, mas é preferido natural, batido à mão com água, para apreciar melhor seus aromas. Vendido em pacotes de 20 gramas, o pó verde custa entre US$ 25 (R$ 135,57) e mais de US$ 100 (R$ 542), segundo a variedade escolhida.

No período de um ano, a produção foi superada por uma demanda em forte aumento, provocando um incremento de 198% no preço do pó verde no Japão, segundo Mangan.

Em Sayama, nos arredores de Tóquio, Masahiro Okutomi, 15ª geração à frente de uma empresa de chá familiar, está sobrecarregado pelo auge do matchá. “Tive que colocar em nosso site que já não aceitamos mais pedidos”, afirma.

A fabricação do “ouro verde” é um processo longo e artesanal: as folhas, chamadas “tencha”, são cultivadas à sombra durante várias semanas antes da colheita, depois são colhidas à mão e têm as nervuras removidas antes de serem finamente moídas.

“É um trabalho de longo prazo que requer equipamento, mão de obra e investimentos”, explica Okutomi.

“Estou contente que o mundo se interesse pelo nosso matchá, mas a curto prazo, quase representa uma ameaça: já não conseguimos dar conta do ritmo”, lamenta.

BOOM NAS REDES SOCIAIS

O boom do matchá surgiu nas redes sociais, onde influenciadores como Andie Ella, que tem 600 mil seguidores no YouTube, popularizaram a bebida de vibrante cor verde. “O matcha é visualmente muito atraente”, diz a francesa de 23 anos.

Em sua boutique no moderno bairro de Harajuku, em Tóquio, dezenas de fãs querem tirar uma foto com ela e comprar seu chá matchá sabor morango ou chocolate branco.

Sua marca lançada em novembro de 2023 tem grande sucesso: já foram vendidas 133 mil latas de matchá, produzido na região de Mie. E “a demanda continua crescendo”, sublinha Ella.

Milhões de vídeos no TikTok, Instagram e YouTube mostram como preparar bebidas de matchá fotogênicas ou como escolher um batedor tradicional de bambu “chasen”.

“Sinto que a Geração Z impulsionou este entusiasmo pelo matchá, e para isso se apoiaram em grande medida nas redes sociais”, declarou à AFP Stevie Youssef, profissional de marketing de 31 anos, na loja da Kettl em Los Angeles.

Muitos bebem matchá pelo seu sabor, mas outros se sentem atraídos por suas propriedades nutricionais: é rico em antioxidantes e pode favorecer a concentração graças à sua cafeína.

TARIFAS

Em 2024, o matchá representou um pouco mais da metade das 8.798 toneladas de chá verde exportadas no Japão, segundo cifras oficiais, o dobro de dez anos atrás.

Mas o crescimento do mercado global do matcá —estimado em cerca de US$ 3,3 bilhões em 2024— enfrenta vários desafios.

“Os clientes dizem: ‘Quero matcha antes que acabe'”, adverte Mangan em sua loja californiana. No Japão, durante o primeiro leilão da temporada em Quioto, o preço médio do tencha alcançou o recorde de 8.235 ienes (cerca de US$ 57), quase o dobro do que no ano passado.

O fundador da Kettl teme ainda outra ameaça: as tarifas americanas sobre os produtos japoneses, que podem passar de 10% para 24% neste mês.

“É um período difícil. Tentamos absorver parte dos custos, mas há limites. Não podemos aumentar os preços indefinidamente”, diz.

No Japão, a situação dos produtores de chá continua precária: o número de explorações agrícolas se reduziu a um quarto em 20 anos.

“A pergunta continua sendo se podemos produzir em massa sem sacrificar a qualidade”, questiona Okutomi.

O governo japonês incentiva que os produtores de chá trabalhem em grande escala para reduzir os custos.

Mas nas “pequenas regiões rurais é quase impossível”, aponta Okutomi. “A formação da nova geração leva tempo… isso não se improvisa”.

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