Há dois anos, antes da primeira Copa do Mundo feminina com 32 equipes, havia uma ampla expectativa de partidas desequilibradas. A Copa do Mundo de 2019 contou com 24 seleções, e os Estados Unidos registraram uma vitória de 13 gols sobre a Tailândia na fase de grupos. Certamente, incluir oito equipes mais fracas provocaria resultados semelhantes?
Tais temores foram infundados. É verdade que a Holanda venceu o Vietnã por 7 a 0, mas a diferença entre a elite e as azaronas havia diminuído.
Nações tradicionalmente fortes, incluindo Alemanha, Itália e Brasil, foram eliminadas na fase de grupos. Colômbia, África do Sul e Nigéria impressionaram. Nações menores, como Haiti, Nova Zelândia e Jamaica, foram genuinamente competitivas. Mas e se houvesse outro fator? E se a elite tradicional não for tão boa quanto deveria ser?
A Eurocopa feminina deste ano, que começou nesta quarta-feira (2) na Suíça, será o mais recente teste.
Entre as 16 equipes que se classificaram para a Euro 2025, há meia dúzia de candidatas realistas ao título, distribuídas de forma um tanto desigual pelos quatro grupos —nenhuma no Grupo A, Espanha no Grupo B, Alemanha e Suécia no Grupo C, e Inglaterra, França e Holanda no Grupo D. Todas, exceto a Holanda, classificada em 11º, estão entre as 10 primeiras posições da Fifa (Federação Internacional de Futebol) no ranking global. No entanto, nenhuma das seis parece ter melhorado significativamente nos últimos dois anos.
A Espanha, campeã mundial, é a favorita, mas a equipe não é perfeita. A Espanha produz mais jogadoras tecnicamente talentosas, como Alexia Putellas, do que qualquer nação, mas tem poucas artilheiras implacáveis.
A Alemanha já dominou esta competição, mas passou por uma grande reconstrução. Está sem várias veteranas, incluindo a atacante superstar Alexandra Popp. Faltam zagueiras exprientes.
A Suécia venceu a primeira Eurocopa feminina em 1984, um reflexo de como as nações nórdicas abraçaram o futebol feminino antes das potências do futebol masculino europeu. Essa vantagem inicial teve efeitos duradouros: durante grande parte deste século, a Suécia teve a melhor liga do futebol feminino europeu. Agora que as nações europeias mais populosas estão levando o futebol feminino a sério, a Suécia caiu.
A Inglaterra venceu a Euro em casa há três anos, e o futebol feminino no país progrediu significativamente, mas sua preparação para o torneio foi interrompida. As desistências da goleira Mary Earps e da defensora Millie Bright, que iniciaram todos os jogos das campanhas da Inglaterra em finais importantes em 2022 e 2023, sugeriram problemas mais profundos com o espírito de equipe.
As holandesas parecem menos temíveis hoje em dia, principalmente porque Vivianne Miedema, que já foi a atacante mais completa da Europa, teve três anos de lesões.
Finalmente, a França é eternamente um mistério, continuamente produzindo boas jogadoras, mas falhando em funcionar coletivamente. As francesas nunca chegaram à final de uma Euro —ou de uma Copa do Mundo ou Olimpíadas. No papel, têm poucas fraquezas. Em campo, frequentemente decepcionam.
Então, o que está acontecendo? Como a Europa conquistou o primeiro, segundo e terceiro lugares (Espanha, Inglaterra e Suécia) na Copa do Mundo de 2023, e ainda assim parece que suas melhores seleções deveriam ser melhores? Provavelmente, há três grandes mudanças acontecendo.
Primeiro, na Europa, a versão excepcional do futebol feminino agora é o futebol de clubes, em vez do futebol internacional.
Quando os Estados Unidos eram a força dominante, a estrutura da liga nacional de futebol feminino garantia equilíbrio e competitividade; as jogadoras eram distribuídas relativamente de forma uniforme pela liga, e a seleção nacional permanecia como a melhor equipe do esporte.
O futebol europeu é muito diferente, concentrando jogadoras em um punhado de clubes. Com mais movimento de jogadoras entre países, e mais jogadoras sendo importadas de fora da Europa, os principais clubes agora acumulam talentos e atuam em um nível mais alto do que as seleções internacionais. Como consequência, passar da Champions League para a Euro frequentemente parece um passo para trás em termos de qualidade.
O segundo fator é a evolução tática do futebol feminino. É menos individualista e cada vez mais coletivo.
Há uma década, parecia suficiente para as grandes nações confiarem em algumas estrelas que dominariam. Mas agora as equipes defendem melhor como unidade, e as adversárias precisam de movimentação integrada para quebrá-las. As equipes pressionam mais alto no campo, então as adversárias precisam de passes treinados para contorná-las.
Esses conceitos só podem ser aperfeiçoados no campo de treinamento, mas em nível internacional, os treinadores não têm muito tempo com seus elencos. É uma clara vantagem que a Espanha possa contar com quase um time titular inteiro que joga junto pelo Barcelona.
Finalmente, a ascensão das azarões não pode ser separada de tudo isso porque é claro que as melhores jogadoras do mundo agora vêm de uma gama mais ampla de nações.
Na votação de 2014 para melhor jogadora do ano da Fifa, as dez melhores jogadoras eram de sete nações fortes no futebol feminino: Estados Unidos, Brasil, Japão, Alemanha, França, Espanha e Suécia. Para a votação equivalente uma década depois, em dezembro, o top 10 incluiu Barbra Banda, da Zâmbia, Tabitha Chawinga, do Malawi, e Khadija Shaw, da Jamaica.
O jogo melhorou imensamente na última década. O sorteio desequilibrado criará grandes confrontos na fase de grupos e permitirá que pelo menos uma azarona chegue às semifinais.
No final das contas, uma das seis favoritas provavelmente vencerá a Euro, mas os dias de esperar grandes vitórias acabaram.