/ Jul 04, 2025

Jeff Bezos 2.0: nova mulher, novíssimo trabalho e sonhos de infância – 03/07/2025 – Tec

Jeff Bezos vive segundo um preceito simples: limitar o número de coisas que você gostaria de ter feito diferente quando tiver 80 anos. Ele chama isso, com seu jeito nerd de ser, de “estrutura de minimização de arrependimentos”.

Em 1994, isso o levou a abandonar um trabalho confortável em um fundo de hedge para fundar a Amazon. É o que está por trás das grandes apostas, desde o serviço de assinatura Amazon Prime até a computação em nuvem AWS, que transformaram a empresa em um titã da tecnologia avaliado em US$ 2,3 trilhões (R$ 12,45 trilhões) —e ele próprio em uma das pessoas mais ricas do mundo.

Isso também explica por que, seis anos atrás, Bezos deixou sua primeira mulher após 25 anos de casamento por Lauren Sánchez, uma ex-apresentadora de TV. E por que ele gastou, segundo algumas estimativas, US$ 50 milhões (R$ 270,58 milhões) para alugar Veneza por três dias para suas suntuosas núpcias entre 26 e 28 de junho —ignorando a previsível reação antiplutocrática.

Aos 61 anos, Bezos provavelmente tem hoje uma ideia ainda melhor do que seu eu octogenário poderia se arrepender do que tinha aos 31, 41 ou 51 anos, quando seu 80º aniversário estava longe. Para ter uma noção de seu cálculo atual, observe como ele gasta, primeiro, seu tempo e, depois, sua fortuna de US$ 240 bilhões (R$ 1,29 trilhão).

Assim vez que o bilionário voltar de sua lua de mel, cujos detalhes são tão sigilosos quanto o casamento foi barulhento, ele retornará ao seu outro amor: a Blue Origin. Bezos tem sido um entusiasta espacial desde que assistiu ao pouso da Apollo 11 na Lua em 1969, quando tinha cinco anos. Em 2000, ele fundou a empresa de foguetes —com o lema: “gradatim ferociter” (passo a passo, ferozmente)— para tornar as viagens espaciais mais baratas com naves reutilizáveis.

O objetivo final é permitir que a humanidade continue crescendo no espaço rico em recursos e não poluível, enquanto deixa a Terra prosperar como uma reserva natural do tamanho de um planeta.

Até se aposentar como chefe da Amazon em 2021, ele reservava o mesmo meio dia de cada semana de trabalho (mais as manhãs de sábado) para transformar essa ficção científica em realidade empresarial. Bezos confessou que uma das razões para deixar a Amazon foi que a Blue Origin estava seguindo sua missão de forma muito “gradatim” e não “ferociter” o suficiente. A SpaceX, uma rival dois anos mais jovem, estava enviando dezenas de cargas por ano para a órbita. A Blue Origin ainda não havia lançado nenhuma.

Assim, nos últimos quatro anos, ele tem, por sua própria opção, dedicado 90% de seu tempo à Blue Origin. Ele é o único proprietário da empresa, mas não a administra no dia a dia. Esse trabalho é de David Limp, que Bezos tirou da Amazon em 2023, onde supervisionava vários projetos relacionados a dispositivos, incluindo a assistente digital Alexa, o leitor de livros Kindle e o Projeto Kuiper, uma iniciativa de banda larga por satélite para desafiar o sistema Starlink, de Elon Musk.

De acordo com pessoas bem informadas, no entanto, Bezos é um co-CEO de fato, além de solucionador-chefe de problemas. Ele está constantemente em busca de maneiras de fazer as quatro fábricas e sete escritórios de campo da Blue Origin em todo os Estados Unidos funcionarem de forma mais eficiente. É difícil, por exemplo, não ver sua mão implacável na decisão da empresa em fevereiro de demitir 10% de sua força de trabalho de 14 mil pessoas. Sem arrependimentos ali, pelo menos não para Bezos.

Também tem havido menos arrependimentos em outros lugares do negócio ultimamente. Há dois anos, a Blue Origin conseguiu um contrato para desenvolver um módulo de pouso para o planejado retorno tripulado da Nasa à Lua.

Em janeiro, realizou a viagem inaugural, há muito adiada, de seu foguete New Glenn. Ele atingiu a órbita na primeira tentativa (embora o primeiro estágio reutilizável não tenha sido recuperado da maneira que a SpaceX agora emprega rotineiramente). Um segundo lançamento está previsto para agosto.

Mais contratos federais podem estar chegando para a Blue Origin. Elon Musk, o explosivo chefe da SpaceX, está destruindo sua amizade com o presidente dos Estados Unidos, enquanto Bezos bajulou Trump com um convite para o casamento (recusado) e suavizou o tom anti-Trump do Washington Post, jornal de propriedade de Bezos.

E quanto aos 10% da semana de Bezos não ocupado pela Blue Origin ou por articulações em seu nome? A Amazon, da qual ele continua sendo presidente executivo, está prosperando sob seu sucessor escolhido a dedo, Andy Jassy. O Washington Post parece cada vez mais uma distração. Em vez disso, o principal trabalho paralelo de Bezos atualmente é o Bezos Earth Fund. Se a Blue Origin está tentando tornar o espaço habitável no futuro, a instituição de caridade de US$ 10 bilhões (R$ 54,41 bilhões) pretende manter a Terra assim no presente.

Esse desejo duplo de longa data também colore cada vez mais os investimentos financeiros de Bezos —embora de forma menos desequilibrada do que seu tempo. A fortuna dele vem principalmente de sua participação de 8,6% na Amazon, avaliada em quase US$ 200 bilhões (R$ 1,08 trilhão). Ela é gerenciada parcialmente por meio de seu escritório, Bezos Expeditions. De acordo com a PitchBook, uma provedora de dados, a empresa administra US$ 108 bilhões (R$ 584,44 bilhões) em ativos. Isso é aproximadamente o mesmo que o fundo de pensão estadual de Ohio.

No passado, o portfólio da Bezos Expeditions incluía apostas iniciais na Airbnb, Twitter (agora chamado de X), Uber e várias outras startups que se tornaram nomes familiares ao público. Bezos pode ter garantido um bom retorno ao sacar enquanto elas ainda eram privadas, mas seu desempenho combinado subsequente mediano na Bolsa de Valores —melhor que o índice S&P 500, mas não o Nasdaq de tecnologia, muito menos a Amazon— não é sinônimo de aventureiro.

PARA IR AUDACIOSAMENTE

As apostas atuais da Bezos Expeditions parecem mais ousadas —e úteis para uma espécie viajante espacial com um carinho especial por seu mundo natal. Ela apoiou startups que desenvolvem cérebros de inteligência artificial para robôs (Skild AI, Physical Intelligence) e sua força mecânica (RIVR Technologies) e interfaces para conectar mentes humanas a membros artificiais (Synchron). Financiou a General Fusion, que trabalha para aproveitar energia semelhante à do Sol na Terra, e a NotCo, que usa IA para produzir carne à base de plantas.

É investidora na Atlas Data Storage, que quer armazenar informações em DNA sintético em vez de silício. E, claro, Bezos investiu bilhões não divulgados na Blue Origin. Para alguns, tudo isso pode parecer um magnata que já passou do auge, procurando maneiras de gastar seu dinheiro. É melhor entendido como viver um sonho de infância, sem arrependimentos.

Texto do The Economist, traduzido por Fernando Narazaki, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com

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