“Nós contra Paris e Real.” A Copa do Mundo de Clubes da Fifa enfim ganha alguma atenção na Alemanha, lembra a manchete do tabloide Bild. Neste sábado (5), o país tem uma desculpa a mais para enfrentar o escaldante início de verão europeu em bares e “biergartens”, já que Bayern e Borussia Dortmund estarão em campo pelas quartas de final da competição.
Afirmar que a controversa Copa empolga os alemães é um exagero. O fato, também experimentado pelos brasileiros, de ter dois clubes no mata-mata, reforçado por duelos com cara de Champions, acaba naturalmente impondo a competição aos torcedores neste fim de semana. Ajuda também as partidas acontecerem em horários mais acessíveis na Europa: PSG e Bayern se enfrentam às 18h (13h de Brasília), e o Dortmund encara o Real Madrid a partir das 22h (17h).
O melhor jogo do quarto colocado da última Bundesliga, a vitória de 2 a 1 sobre o Monterrey, nas oitavas, começou às 3h nos relógios alemães. Ainda que a classificação tenha significado € 50 milhões (R$ 313 milhões) ao Dortmund, é preciso ser fanático para encarar o futebol no meio da madrugada em dia de semana, sem falar no risco das condições climáticas interromperem a disputa, uma das marcas do torneio americano até aqui.
De acordo com o mais famoso técnico alemão da atualidade, nem os milhões justificam o esforço. Em entrevista ao jornal Welt am Sonntag, Jurgen Klopp, ex-treinador do Liverpool e hoje diretor de futebol global da Red Bull, disse que a Copa de Clubes é “a pior ideia já implementada no futebol” devido a “sérias preocupações” com o bem-estar dos jogadores.
“O importante é o jogo, não os eventos que o rodeiam”, declarou. “Pessoas que nunca tiveram ou não têm mais nada a ver com o negócio estão inventando coisas.”
Para Klopp, que tinha um time no torneio –o Salzburg, eliminado na fase de grupos–, ainda que haja “uma quantidade insana de dinheiro envolvida na competição”, poucos clubes acabarão sendo beneficiados e a um custo muito alto de saúde dos atletas.
“No ano passado foi a Copa América e a Euro, este ano é o Mundial de Clubes e, no ano que vem, é a Copa do Mundo. Isso significa que não há recuperação real para os jogadores envolvidos, nem física nem mentalmente”, disse o agora executivo, notando que o calendário da Fifa está abreviando as férias do futebol europeu, que ocorrem no meio do ano. “Temos de garantir que os atletas tenham intervalos, pois, se não tiverem, serão incapazes de manter um desempenho em alto nível. E, se não conseguirem isso, todo o produto perde valor.”
Klopp, campeão mundial no formato antigo dirigindo o Liverpool em 2019, com vitória de 1 a 0 sobre o Flamengo na final, ganhou apoio de Pep Guardiola. O técnico do Manchester City afirmou que a Copa poderia “destruir” a temporada 2025/26 de seu time. Não mais, porque o City acabou eliminado nas oitavas pelo Al-Hilal no dia seguinte à declaração.
Estádios vazios, horários ruins e o forte calor de algumas arenas nos EUA completam a lista de críticas europeias ao torneio, certamente contaminadas pelo ritmo de férias e o desconhecimento dos adversários. O redator da newsletter de um importante jornal econômico alemão cometeu um “Palmeiras São Paulo” e um “Fluminense Rio de Janeiro” ao escrever sobre a rodada desta sexta-feira (4).
Há também um argumento emocional a mover a Copa do Mundo de Clubes na Alemanha. O veterano Thomas Muller, 35, estrela da seleção e do Bayern, se despede do clube de Munique e talvez do futebol neste Mundial. Campeão no formato antigo com o Bayern, em 2013 e 2020, Muller não espera ser titular contra o PSG, atual detentor do título da Champions. “Em torneios como este, o que importa é a perspectiva a curto prazo. Portanto, se você recebe a tarefa de conduzir com segurança uma partida disputada nos últimos quinze minutos, não há muito o que pensar.”