/ Jul 08, 2025

Campos Neto: confiança no sistema monetário está em queda – 07/07/2025 – C-Level Plano Brasília

O ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avalia que o movimento de perda de confiança no sistema monetário vem acontecendo de forma acelerada e impõe desafios aos bancos centrais de todo o mundo.

“Tem o movimento de muita gente comprando bitcoin, comprando ouro, comprando stablecoin [um tipo de moeda digital lastreada por um ativo estável ou cesta de ativos], que no final das contas acaba sendo uma moeda, vamos dizer assim, um padrão monetário mais digitalizado”, disse ele em entrevista à Folha, concedida um dia antes de assumir o cargo de vice-chairman e chefe global de políticas públicas do Nubank, em 1º de julho.

Segundo ele, o tema foi discutido no último encontro do BIS (Banco de Compensações Internacionais), conhecido como Banco Central dos BCs, na semana retrasada, na Suiça. O presidente do BC, Gabriel Galipolo, esteve na reunião e retornou ao Brasil no mesmo avião que Campos Neto.

“A gente falou muito de tecnologia, desse movimento de inovação, stablecoin, coisas desse tipo”, disse ele sobre as conversas com o seu sucessor na presidência no BC.

Mesmo fora do BC, Campos Neto participou de uma homenagem a Agustín Carstens, que deixou o cargo de gerente geral do BIS, no último dia 30 de junho. No seu lugar, assumiu Pablo Hernández, que atuou como governador do Banco da Espanha.

“Tem [no mundo] um questionamento muito grande, por exemplo, quando você vê os Estados Unidos colocando uma taxa de 3,5% para os estrangeiros que trabalham lá e enviam dinheiro para as famílias em outros países. As pessoas começam a falar: ‘Se os Estados Unidos estão colocando uma regra, que na nossa interpretação pode ser considerada um controle de capital, imagina o que não pode acontecer com os outros países'”, questionou Campos Neto.

Para ele, essa nova ordem global tem gerando uma desorganização que está fazendo com que as pessoas tenham menos confiança nos sistemas monetários tradicionais. “Isso está acontecendo de uma forma acelerada nos últimos meses. Foi um tema muito relevante lá na reunião do BIS porque a gente tá vendo um crescimento muito grande de ativos digitais, stablecoins.”

Ele destacou que hoje existe um processo de intermediação financeira mais digital e grande parte da agenda de inovação do BC, realizada nos últimos anos, foi preparar o Brasil para essa nova realidade.

“Olhando para frente, penso que cada vez mais vamos ter um processo mais digitalizado, que passou de ser analógico para ser digital e agora ele vai passar de ser digital para ser tokenizado. Os pagamentos vão ser ordens em criptos. Vai passar a falar uma língua de blockchain, de digital led, que é um processo ainda um pouco mais avançado. A gente ainda não está lá, mas estamos caminhando”, ressaltou.

Para ele, bancos não só no Brasil, como na Europa e Ásia, têm adotado uma estratégia disruptiva, porque como têm um custo muito mais baixo, podem oferecer alguns tipos de produtos a preços melhores. “Isso fomenta a competição, gera a inclusão social e é muito bom.”

Segundo Campos Neto, alguns grandes bancos grandes estão investindo muito em tecnologia, em consequência desse processo mais acelerado de mudança do mercado.

“Se a gente pegar a parte de inteligência artificial, os grandes bancos americanos são quase os maiores investidores de inteligência artificial depois das próprias empresas de inteligência artificial”, observou.

O ex-presidente negou que os grandes bancos tenham criticado a agenda de inovação do BC com a criação de novos produtos. “Nunca tive crítica, não. No Pix, teve apoio dos grandes bancos. O processo de inovação tem que ser acelerado”, respondeu.

Ele destacou a criação de mecanismos para garantir estabilidade bancária em razão da redução do custo mais baixo de tirar o dinheiro de um banco é outro debate internacional em curso. “Hoje, com dois cliques no celular você abre uma conta em outro banco e transfere de um para o outro. E tem muito, vamos dizer assim, boato na rede que pode desestabilizar um banco. Foi o que aconteceu com o Silicon Valley Bank”, disse ele, numa referência ao banco americano que falou em 2023. A instituição fazia empréstimos a alguns dos maiores nomes do mundo da tecnologia e se tornou o maior banco a falir nos Estados Unidos desde a crise financeira de 2008.

Campos Neto pontuou ainda que hoje tem uma corrida muito grande para que o país entre nesse nova era do desenvolvimento da inteligência artificial. “Precisa ter muitos data centers, muitos investimentos do tipo que o Brasil pode oferecer, porque o Brasil tem energia, o Brasil tem espaço para fazer.”


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