O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vai atualizar no final deste mês a série histórica da pesquisa que fornece os dados oficiais do mercado de trabalho no país. Trata-se da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.
O órgão afirma que a atualização estará disponível a partir da próxima divulgação do levantamento, que trará os resultados até o trimestre encerrado em junho de 2025. A publicação das informações está agendada para 31 de julho.
Na Pnad Contínua, o IBGE calcula indicadores como a taxa de desemprego, o número de desempregados e a população ocupada com algum tipo de trabalho (formal ou informal). A atualização, chamada de reponderação, era aguardada por analistas.
Segundo o instituto, a revisão busca incorporar as projeções populacionais mais recentes, divulgadas em 2024. Essas estimativas foram produzidas a partir da contagem do Censo Demográfico 2022.
Para realizar a Pnad Contínua, o IBGE trabalha com uma amostra representativa dos domicílios no país. Por isso, a atualização da série histórica, com base nas projeções mais recentes, é recomendada por especialistas da área estatística.
As estimativas divulgadas pelo instituto em 2024 apontaram que o Brasil tinha 212,6 milhões de habitantes no dia 1º de julho do mesmo ano.
É um número menor do que o contingente indicado na série atual da Pnad Contínua, antes da reponderação, para o trimestre até julho de 2024: 216,9 milhões.
A diferença está associada ao fato de o Censo 2022, base para as estimativas populacionais mais recentes, ter contabilizado menos habitantes do que o sinalizado nas previsões anteriores, usadas até agora na Pnad Contínua.
Em nota, o IBGE afirma que as reponderações fazem parte da rotina do instituto e ocorrem após recenseamentos. A antiga versão da Pnad, já encerrada, passou por processos do tipo, diz o órgão.
“Em geral, essas reponderações não acarretam mudanças muito significativas nos indicadores”, declara o IBGE.
A Pnad Contínua vem mostrando um cenário de mercado de trabalho aquecido no Brasil. Essa leitura não mudará a partir da reponderação, diz o economista Bruno Imaizumi, da consultoria LCA 4intelligence.
Segundo ele, a atualização da série tende a mexer nos números absolutos da pesquisa, como os contingentes de ocupados, de desempregados e na força de trabalho.
O economista também afirma que a taxa de desemprego poderá ficar menor com menos jovens do que o previsto anteriormente. A desocupação costuma ser mais elevada entre eles.
“A mensagem seguirá a mesma, mostrando um mercado de trabalho aquecido. Outras pesquisas também revelam isso”, diz Imaizumi, citando como exemplo os dados do Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego.
No trimestre até maio, o Brasil registrou taxa de desemprego de 6,2%, segundo dados da Pnad Contínua divulgados pelo IBGE no dia 27 de junho —antes da atualização. É a menor para esse período na série desde 2012.
Considerando diferentes trimestres, um patamar mais baixo só foi verificado no intervalo até novembro do ano passado (6,1%).
Ainda de acordo com a pesquisa mais recente, o país tinha 6,8 milhões de desempregados e 103,9 milhões de trabalhadores ocupados.
O IBGE havia divulgado uma atualização na série da Pnad Contínua em novembro de 2021. À época, porém, a reponderação foi realizada para mitigar impactos da pandemia na coleta das informações.
Além de produzir indicadores trimestrais do mercado de trabalho, a Pnad Contínua ainda levanta dados anuais sobre temas diversos. Esses módulos também serão submetidos à atualização da série, conforme o IBGE.
O instituto vem enfrentando dificuldades orçamentárias que desafiam o andamento de suas pesquisas. O Censo Demográfico 2022, por exemplo, estava agendado inicialmente para 2020, mas sofreu atraso com o corte de verba e as restrições à circulação de pessoas na pandemia.
O IBGE é presidido desde agosto de 2023 pelo economista Marcio Pochmann, cuja gestão protagonizou embates com servidores.
Em entrevista à Folha neste mês, Pochmann afirmou que segue em busca de mudanças no órgão, apesar das críticas recebidas nos últimos meses. Ele disse que “não há transformação sem resistência”.