O presidente Lula (PT) recebeu nesta quarta-feira (9) o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, sem citar em seu discurso o caso da jovem brasileira Juliana Marins, que morreu ao fazer uma trilha no monte Rinjani, vulcão indonésio, em junho.
Segundo informações anteriores do Itamaraty, havia a expectativa de que os dois tratassem do tema durante a reunião bilateral desta terça, o que, segundo auxiliares do Palácio do Planalto, não aconteceu.
Tanto o discurso de Lula quanto o do presidente indonésio não citaram o caso, e ambos limitaram-se a reforçar a parceria entre os dois países e pretensões comerciais.
Os dois citaram o papel que Brasil e Indonésia desempenham nos diálogos em torno da paz e nas defesas pela interrupção dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio. Foi reforçado o apoio à criação de dois estados —um israelense e um palestino— para cessar a guerra no território.
“Nunca tivemos medo de apontar a hipocrisia dos que se calam sobre os problemas dos nossos tempos”, disse Lula nesta quarta.
Subianto veio ao Brasil por ocasião da cúpula do Brics, realizada nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro. Antes disso, ainda não havia tido um encontro entre Lula e o líder indonésio.
“O Brasil apoia a entrada da Indonésia no novo Banco do Desenvolvimento [do Brics], que tem suprido uma lacuna no sul global”, afirmou o presidente brasileiro ao falar da entrada da Indonésia no bloco econômico neste ano.
O caso de Juliana trouxe repercussões negativas para o líder indonésio por parte dos brasileiros, que entraram em seu perfil nas redes sociais e deixaram comentários de cobranças e acusações de negligência no resgate à jovem.
Durante os dias de busca por Juliana Marins, o contato do Brasil com a Indonésia se deu entre os chanceleres, os embaixadores e o governador da província de Lombok, onde se localiza o vulcão do acidente. Os presidentes não se falaram.
Nesta quarta-feira (9), a autópsia realizada no Brasil pelo IML (Instituto Médico Legal) reforçou o laudo inicial feito na Indonésia que apontou que a morte acontecera após o trauma da queda. O documento produzido no Brasil não confirma hora e o dia exatos do óbito devido às condições de embalsamento em que o corpo chegou.
O caso mobilizou Lula a revogar o decreto que impedia que o Itamaraty arcasse com o translado do corpo de brasileiros mortos no exterior, o que permitiu ao governo custear o transporte do cadáver de Juliana ao Brasil.
Relação comercial
Há, por parte da Indonésia, um interesse em iniciar negociações com o Mercosul, cuja presidência foi assumida por Lula na última cúpula do bloco sul-americano, realizada em Buenos Aires. Além disso, os dois devem discutir áreas como segurança alimentar, energia renovável, bioenergia, defesa e educação e temas da agenda multilateral, como crise climática, reforma da governança global e busca pela paz no Oriente Médio.
A reunião bilateral com Subianto ocorre como parte de uma sequência dos encontros do Brics. Na véspera, Lula recebeu o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, no Palácio da Alvorada.
Compareceram à cerimônia os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Camilo Santana (Educação), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), Sidônio Palmeira (Secom), Marina Silva (Meio Ambiente), Marcos Antonio Amaro (Segurança Institucional) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral).