O Brasil passou décadas tentando abrir o mercado dos Estados Unidos para os produtos do agronegócio. No momento em que conseguiu, e está obtendo valores recordes em exportações, vê todo esse esforço ser colocado em risco devido a uma ação meramente política de Donald Trump.
A sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros inviabiliza as exportações de alguns setores, como o de suco de laranja, e freia a expansão de outros, como o da carne bovina, que vem em um ritmo forte de crescimento.
Embora visando enfraquecer o governo brasileiro e buscando uma defesa de Jair Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos fere seus principais apoiadores, tanto no Brasil como nos dos Estados Unidos. Se de um lado, o Brasil terá dificuldades para exportar. De outro, os americanos vão ver o custo de alimentação crescer exponencialmente.
Nos seis primeiros meses deste ano, as exportações brasileiras de alimentos atingiram o recorde de US$ 4,4 bilhões para os Estados Unidos, um valor que vem crescendo em ritmo forte nos anos recentes. No primeiro semestre de 2000, as vendas somavam apenas US$ 615 milhões e, em 2020, US$ 1,48 bilhão. As importações brasileiras feitas nos Estados Unidos no setor de alimentos somaram US$ 349 milhões neste primeiro semestre.
Entre os principais produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos estão itens essenciais no dia a dia do consumo americano. Os Estados estão cada vez mais dependentes de carne bovina, uma vez que o rebanho do país está em queda, e a capacidade de produção diminui ano a ano. A presença brasileira no mercado americano tem sido importante na complementação da oferta dessa proteína.
No primeiro semestre deste ano, as exportações brasileiras de carne bovina para os Estados Unidos aumentaram 113%, sobre o mesmo período de 2024, atingindo 181 mil toneladas. As receitas somaram US$ 1,04 bilhão, com alta de 102%, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) e da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).
Sem a proteína brasileira, o consumidor norte-americano terá de pagar mais pelo produto. Na última década, os Estados Unidos elevaram em 30% as importações de carne bovina, que, em 2024, subiram para 1,3 milhão de toneladas.
Do lado brasileiro, as amarras políticas colocadas por Trump dificultam a vida do setor, uma vez que o Brasil praticamente já tem seu produto distribuído para todo o mundo e uma realocação do alto volume de carne importado pelos Estados Unidos para outras regiões não será tarefa fácil.
A tarifa americana afeta também o setor de café. Como na carne, dificulta a vida dos produtores e exportadores brasileiros, uma vez que os EUA estão entre os principais importadores mundiais do produto. Nesta safra 2025/26, devem comprar 25,5 milhões de sacas, entre café em grão e torrado.
Mais uma vez, o Brasil é fundamental nesse setor, e os norte-americanos não têm outro mercado para socorrê-los. O Brasil produzirá 65 milhões de sacas nesta safra 2025/26, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), um volume igual ao dos demais quatro principais produtores mundiais que vêm a seguir. Os preços devem subir para os consumidores dos EUA.
As exportações mundiais de café nesta safra deverão ser de 148,5 milhões de sacas, incluindo o café em grão e processado. Deste volume, o Brasil participará com 42 milhões de sacas, segundo o Usda.
A ação política de Trump está ferindo fortemente também o setor de suco de laranja. Principal fornecedor mundial, o Brasil tem nos Estados Unidos um mercado de 42% para as suas exportações. Esse setor já é castigado por uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada quando o suco entra em território norte-americano.
A nova tarifa vai elevar em 533% o peso sobre as exportações brasileiras. Com isso, 72% do valor total do suco seriam recolhidos como tributo, segundo a CitruBr, entidade ligada ao setor. Assim como ocorre com a carne, os demais mercados não conseguiriam absorver eventual redução de volume no mercado americano.
A nova tarifa de Trump deve colocar um freio também sobre as exportações de sebo, um novo filão que o Brasil vem encontrando nos Estados Unidos nos últimos anos. Com o aumento do programa de biodiesel, os americanos importaram 230 mil toneladas de sebo do Brasil no primeiro semestre deste ano, um volume 1.063% superior ao de igual período de 2022.
Na lista de produtos exportados que têm uma certa relevância estão ainda açúcar, lácteos, cacau, pescado, frutas, etanol e tabaco.
Vai ficar difícil para os apoiadores de Bolsonaro e os do agronegócio defenderem essa ação política de Donald Trump.