/ Jul 12, 2025

Atirou no Brasil, vai acertar no estadunidense médio – 10/07/2025 – Bráulio Borges

O “raio tarifador” trumpista voltou com toda a força nesta semana, pouco mais de três meses após o patético Dia da Libertação. Nessa nova rodada, os alvos foram inúmeros países (Japão, Coreia do Sul, Brasil, Tailândia, Indonésia, África do Sul, dentre outros) e produtos específicos. As maiores tarifas adicionais, de 50%, foram aplicadas ao Brasil e ao cobre, com os demais países recebendo elevações de “apenas” 20% a 40%. Em tese, essas novas alíquotas começariam a vigorar a partir de agosto —mas talvez isso não aconteça, já que, como se diz por aí, TACO (sigla para “Trump Always Chichen Out” ou, em tradução, “Trump sempre volta atrás”).

Em abril, no Dia da Libertação, a tarifa adicional aplicada ao Brasil havia sido de “somente” 10%, já que, na fórmula totalmente sem sentido apresentada naquele episódio, seriam penalizados os países com os quais os EUA mantinham déficits comerciais na balança de bens —e os EUA têm registrado superávits comerciais sistemáticos ante o Brasil há mais de 15 anos.

Assim, é simplesmente uma mentira o seguinte trecho da carta enviada ontem pelo governo dos EUA ao brasileiro: “Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de políticas tarifárias e não tarifárias do Brasil e barreiras comerciais, causando esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Est e déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!”.

Vamos aos números: segundo dados do Departamento de Comércio dos EUA, considerando apenas a balança comercial de bens, os EUA vêm registrando superávits sistemáticos com o Brasil desde 2008, acumulando um saldo favorável aos EUA de quase US$ 166 bilhões (R$ 920 bilhões) entre 2008 e 2024 (preços correntes). Levando em conta as transações de bens e serviços, os EUA têm registrado superávits com o Brasil desde 2007, com um saldo acumulado favorável a eles de US$ 436 bilhões (R$ 2,4 trilhões) entre 2007 e 2024.

Ou seja, na métrica “tosca” do governo Trump, que mede os benefícios do comércio de um país de uma forma mercantilista (superávit é ganho, déficit é prejuízo), seriam os EUA que estariam sendo “injustos” com o Brasil e não o contrário.

Não custa reforçar que essa é uma métrica totalmente equivocada, como argumentei em coluna anterior aqui na Folha: ainda que venha acumulando déficits comerciais na balança de bens contra o resto do mundo há muitos anos, diversos estudos apontam que os EUA ganharam, e bastante, com a ampliação do comércio internacional (embora alguns grupos específicos tenham sofrido com isso, sobretudo os trabalhadores de alguns segmentos da manufatura).

Como diversos analistas vêm alertando, quem mais sofrerá com esse aumento expressivo das tarifas de importação, que deverão passar de cerca de 5% para algo entre 12% e 15% levando em conta uma média ponderada, serão os cidadãos norte-americanos e a economia dos EUA.

Embora esse tarifaço ainda não tenha afetado de forma significativa os preços dos produtos na maior economia do mundo, isso certamente ocorrerá: só não aconteceu ainda pois houve uma explosão de importações no final de 2024 e nos primeiros meses deste ano, que permitiram a formação de um estoque de produtos sem essas tarifas adicionais.

Tendo consciência de que o custo de vida irá aumentar, uma parcela majoritária da população dos EUA não está satisfeita com a política comercial adotada por Trump: segundo o agregador de pesquisas Silver Bulletin, quase 54% dos norte-americanos desaprovam essa política, percentual bem acima dos 39% que aprovam. Trump está encomendando uma derrota para os republicanos nas eleições intermediárias para o Congresso que acontecerão nos EUA no final de 2026, além de estar dando força eleitoral para os políticos mundo afora que se posicionam contra ele (como já aconteceu no Canadá e na Austrália).


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