O ouro teve sua melhor semana em cinco anos, atingindo recordes históricos enquanto investidores corriam para a segurança de um dos poucos refúgios restantes nos mercados globais após o anúncio das tarifas de Donald Trump contra vários países, sobretudo a China.
O metal subiu mais de 6,5% até o fechamento de sexta-feira (11), alcançando um novo recorde de US$ 3.237 (R$ 19 mil) por onça troy —o maior ganho semanal desde o início da pandemia de Covid-19 em março de 2020.
A disparada ocorreu quando o pânico no mercado desencadeado pela guerra comercial do presidente dos EUA fez com que investidores recuassem dos títulos do Tesouro dos EUA, um refúgio em tempos normais, enquanto as ações despencavam e o dólar caía para mínimas de três anos em relação ao euro.
“Uma ampla venda de ações e títulos do Tesouro dos EUA abalou a confiança nos ativos americanos, levando investidores a buscar segurança no ouro”, avaliou Alexander Zumpfe, negociante de metais preciosos na Heraeus.
“A busca está sendo impulsionada por crescentes temores de uma guerra comercial global”, acrescentou, apontando para os crescentes riscos de recessão, rendimentos de títulos em alta e um dólar dos EUA enfraquecido como fatores que ajudaram na situação.
Como o ouro é precificado em dólares, ele geralmente se beneficia de uma moeda americana mais fraca, pois isso o torna mais barato para comprar em outras moedas.
A crescente guerra comercial global abalou os mercados e contribuiu para a incerteza sobre a saúde do sistema financeiro dos EUA. Na sexta-feira (11), Pequim retaliou Washington com uma tarifa de 125% sobre as importações americanas.
“Você mantém ouro quando está preocupado com o colapso do sistema”, comentou Peter Mallin-Jones, analista da Peel Hunt. “Não é surpreendente que o refúgio seguro dos títulos do Tesouro, ou simplesmente manter o dólar em dinheiro, não seja tão atraente quanto foi em crises anteriores.”
A corrida por ouro tem chamado a atenção neste ano, impulsionado pela forte demanda de investidores, bem como pela compra física de bancos centrais que buscam outras opções além do dólar.
Durante o primeiro trimestre, os influxos em fundos negociados em Bolsa lastreados em ouro estavam em seus níveis mais altos desde a pandemia de coronavírus.
Will Rhind, diretor executivo da empresa de ETF GraniteShares, disse que a fuga para o ouro nos últimos dias foi motivada pelo medo.
“Estamos em uma situação muito fora do comum, onde a fuga para refúgios tradicionais não tem funcionado”, afirmou Rhind, apontando para os rendimentos crescentes do Tesouro. “Você vê as taxas subindo em um ambiente onde as pessoas estão nervosas com o mercado —isso quebra o ciclo de confiança.”
A demanda física por ouro também foi forte esta semana, e na China os compradores estão pagando um valor significativo pelo metal em relação aos preços à vista internacionais, um sinal de forte demanda.
O UBS elevou sua previsão de preço do ouro na sexta-feira pela segunda vez este ano, para US$ 3.500 por onça troy nos próximos 12 meses, acima da previsão de US$ 3.000 feita no início do ano.
“Esperamos demanda adicional de bancos centrais, instituições e investidores após os eventos atuais”, escreveram analistas do UBS em uma nota aos clientes.