/ Apr 19, 2025

Trump faz zorra, e Brasil se esquece de próprios problemas – 16/04/2025 – Vinicius Torres Freire

Desde 2023, sabia-se que o gasto do governo explodiria o arcabouço fiscal em algum momento em torno de 2027. Isto é, a coisa iria para o vinagre ao final de Lula 3 se não houvesse mudança maior no ritmo de crescimento de despesas, grosso modo determinado por leis, “gasto obrigatório”, piorado desde fins de 2022.

Pois bem. Nesta semana, o roteiro da explosão até 2029 foi desenhado pelo próprio governo, que apresentou as linhas gerais do Orçamento de 2026 (o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias).

Prestou-se atenção ao fato de que, em 2027, será preciso incluir nas contas (de despesa, de saldo primário) o gasto inteiro com sentenças judiciais (“precatórios”). Até lá, para certos fins fiscais oficiais, finge-se que um gasto de uns R$ 50 bilhões não existe (reaparece no aumento sem limite da dívida pública). Note-se, porém, que, pelo menos a partir de 2028, o que sobra para o governo gastar, além do obrigatório, é achatado com ou sem precatório. Ou se muda o limite de gastos, ou a meta de superávit primário ou se faz alguma gambiarra ou não vai sobrar nada. Bum.

Vai ter mudança já em 2026, ano eleitoral? De que tipo? Reforma fiscal? Empurra-se com a barriga? Lula 4, caso eleito, diria, em 2027, “olha, deu ruim”? Como Dilma Rousseff em 2015?

Seria bom pensar no assunto, parece, né. Mas o Brasil político, “oficial”, parece esquecido de si. O Congresso não voltou do recesso, afora para resolver seus dinheiros de emendas e para tocar a anistia, a lei pró-golpe. O governo apareceu com o projeto da isenção do Imposto de Renda. O ano agora começa depois da Páscoa?

Muito ainda se fala de como o Brasil pretende negociar o aumento do imposto americano de importação do aço nacional, como se o caldo não fosse muito mais grosso —um espanto. Pelo menos, não falam mais da tolice de retaliar os EUA tributando batom, óculos de sol ou sei lá. E daí?

Houve meses de aviso. Deveríamos estar tratando do que fazer das relações com a China. Do que fazer do risco de desova, por aqui, de produtos chineses ou sabe-se lá mais quem. Deve haver superoferta global —concorrência com indústria doméstica, com um pequeno bônus de queda de preços. Vamos esperar chover?

A provável perda de ritmo da economia tende a criar algum problema para a receita do governo. Preços menores de commodities, em especial petróleo, tiram outro pedaço da receita e da atividade. Sim, pode haver o bônus da redução do preço dos combustíveis, quando alguém tiver noção vaga no que var dar a baderna sinistra de Trump. Mas não estamos otimistas demais com essa receita prevista no Orçamento? É um modo ameno de perguntar.

Pode ser que a desaceleração global, superoferta e, talvez, dólar mais barato permitam que o Banco Central não leve a Selic além de 15% e, quem sabe, baixe juros até o final do ano.

Para pensar nisso tudo, é preciso levar em conta o efeito direto da redução de comércio com os EUA, dos desvios de comércio, do destino dos juros americanos e do dólar no mundo, do preço das commodities, do efeito geral da incerteza e das condições financeiras do mundo. Logo, está muito mais difícil de dar chutes informados do que de costume. Mas o mundo está do avesso e nossos problemas profundos mais imediatos permanecem, e graves (“o fiscal”). Vamos acordar?

O Brasil oficial parece no decúbito eterno —deitado em berço esplêndido.


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