O setor de suco de laranja fez as contas, e o resultado da imposição da tarifa adicional de 10% de Donald Trump sobre o valor aduaneiro será uma carga muito pesada. A nova medida, somada aos tributos já existentes, deve gerar um custo tarifário de R$ 1,1 bilhão por ano.
A imposição dessa tarifa ocorre em um momento em que o setor vem passando por uma tempestade perfeita. Anos de queda na produção de laranja reduziram a oferta de matéria-prima e elevaram os preços do suco para patamar recorde no ano passado. Essa redução de produção foi provocada por efeitos climáticos adversos e avanço do greening, uma doença que afeta seriamente a produção das árvores.
A nova tarifa vem em um período em que o setor, após preços recordes, passa por uma reviravolta brusca. A conjugação de uma recuperação parcial da oferta e enfraquecimento da demanda jogaram os preços para baixo. Nos três primeiros meses deste ano, os valores de negociações dos contratos futuros recuaram 52%.
O peso dos 10% sobre o suco de laranja é grande porque os Estados Unidos ficam com aproximadamente 236 mil toneladas de suco brasileiro por ano, 37% do que o país exporta, conforme dados da CitrusBr.
A nova tarifa deve gerar um impacto adicional de US$ 100 milhões anuais, um custo de R$ 585 milhões, considerando um câmbio médio de R$ 5,85. Ela se soma aos tributos já existentes, uma tarifa de US$ 415 por tonelada para o suco FCOJ (suco concentrado) equivalente a 66 Brix. A tarifa nova e a já existente representam custos anuais de US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão), segundo a CitrusBR..
A medida de Trump eleva ainda mais os custos da cadeia exportadora brasileira de suco e torna o produto nacional menos competitivo em um período de queda de demanda externa, redução nos preços e maior presença do México, que não tem tarifa, no mercado americano. O produtor, que teve bons preços pela caixa de laranja em 2024, também sentirá os efeitos dessa queda no mercado internacional.
As recentes mudanças de rumo do setor não afetam apenas empresas e produtores brasileiros, mas trazem efeitos para toda a cadeia internacional, principalmente para as engarrafadoras e distribuidoras do produto, tanto nos Estados Unidos como na Europa. O cenário atual da citricultura levou muitas empresas a efetivar pedido de insolvência, mudanças na linha de produtos, com menor participação do suco de laranja, e substituição da laranja por outras frutas, como a maçã.
A participação do suco de laranja no quadro de produção de alimentos cai nas grandes empresas, afetando renda e empregos. No ano passado, a garrafa do suco teve alta de 11% no Reino Unido. Preços altos e inflação elevada no mundo levaram os consumidores para outras opções de bebidas mais em conta.
Nas quatro últimas semanas do fechamento da safra 2023/24, o consumo de suco nos Estados Unidos era 22,6% inferior ao da pré-pandemia e 44,5% abaixo do de abril de 2020, auge das vendas nos últimos cinco anos, segundo pesquisa da Nielsen.
Em dezembro, a tonelada de suco de laranja era negociada a US$ 7.013, valor que recuou para US$ 3.020 no início de abril. A média de fechamento da Bolsa de commodities de Nova York, removendo os impostos, caiu de US$ 4,82 para US$ 2,54 no mesmo período.