Parabéns ao mestre Juca Kfouri por mais um ótimo e contundente texto sobre a jogatina disseminada na sociedade e no futebol, com a complacência de tantos, que pode levar a trapaças, prejuízos importantes, além dos riscos do vício e suas graves consequências.
Escrevi na minha coluna anterior que no futebol moderno a marcação por pressão no campo adversário é tão decisiva quanto a presença de um excelente meia de ligação centralizado, o camisa 10. Forma e conteúdo caminham juntos.
A marcação por pressão é fisicamente desgastante. O Cruzeiro, que fez isso com enorme intensidade e eficiência contra o Bahia, não conseguiu repeti-la contra o Bragantino. Os jogadores brasileiros ainda não estão preparados física, mental e coletivamente para atuar com regularidade dessa maneira.
A marcação por pressão e a compactação são hoje essenciais no futebol. Estão associadas ao espaço que uma equipe precisa e ao espaço que não se deve dar ao adversário. A palavra espaço é bastante repetida desde a minha juventude. Analistas e treinadores adoram dizer que um time ganhou ou perdeu porque teve muito ou pouco espaço.
O espaço está sempre presente, maior ou menor. Se um time avança a marcação no meio-campo e os zagueiros continuam próximos à grande área, como é o habitual no futebol brasileiro, vão sobrar muitos espaços entre os dois setores para o outro time receber a bola e contra-atacar.
Na vitória do Corinthians contra o Sport, Memphis recebeu inúmeras vezes a bola livre naquele espaço e, com seu talento, construiu inúmeras jogadas de gol. O técnico português Pepa deveria continuar os estudos. Além disso, colocar em prática a teoria não é fácil. A melhor estratégia é a que possui mais jogadores de talento e que é bem executada.
Se um time marca mais atrás, com oito a nove jogadores próximos à área para diminuir os espaços, o adversário terá mais condições para ter o domínio da bola no meio-campo e pressionar, até arrumar um caminho para chegar ao gol.
O Palmeiras é dos poucos times brasileiros compactos e que alterna, mesmo durante uma partida, o tipo de marcação e a estratégia de jogo. Abel Ferreira mistura obsessão com conhecimento tático. Porém, ainda não estou convencido de sua nova postura, de deslocar o ponta Estêvão para o meio e o meia Felipe Anderson para a ponta.
O brilhante Estêvão, que em julho irá para o Chelsea, da Inglaterra, era chamado de Messinho quando atuava na categoria de base do Cruzeiro. A história conta que Guardiola, quando era técnico do Barcelona, na véspera de um clássico contra o Real Madrid, estudava o jogo e ligou para Messi, que se concentrava em casa, pedindo que fosse imediatamente ao campo de treinamento do Barcelona.
Guardiola disse ao craque que queria que ele, em vez de jogar da ponta-direita aberto para o meio, atuasse mais pelo centro, mais perto do gol, para receber a bola entre os volantes e os zagueiros. Messi brilhou intensamente no jogo e a partir daí nascia o maior jogador da história depois de Pelé.
Sem querer comparar os dois jogadores, será que Abel Ferreira pensou no Messi e no Guardiola para deslocar Estêvão da ponta para o centro? Divagar é preciso.