O planejamento energético do país prevê um aumento, até 2034, de quase 60% no descompasso entre a energia gerada e o consumo em horário de pico e isso forçou o governo a instituir um monitoramento mensal para panes e blecautes.
O ONS (Operador Nacional do Sistema) tem prazo até dezembro deste ano para apresentar ao governo um modelo de aferição de dados sobre a flexibilidade de operação, ou seja, dos recursos capazes de prover energia em momentos críticos. Hoje, só há modelos desse tipo para mensurar o consumo e a geração.
A previsão é que as térmicas –que são poluentes– sejam mais acionadas como “reserva” nesse fornecimento. As fontes eólica e solar são incapazes de entregar energia de forma estável, ou seja, só produzem se há vento e sol.
Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia, recém-divulgado pelo Ministério de Minas e Energia e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a chamada “rampa líquida de carga” é de 17,5 GW (gigawatts) às 19h, pico da disparidade entre o consumo e a entrega efetiva de energia. Ou seja, essa é a necessidade de energia adicional. Em 2028, diz o documento, essa diferença será de 20 GW e, em 2034, 27,5 GW.
Monitoramento mais rigoroso
Embora as hidrelétricas sejam as geradoras mais aptas a injetarem energia imediatamente no sistema, o relatório considera os riscos atrelados à sazonalidade, como uma seca.
Por isso, a recomendação do plano é de um monitoramento mais preciso da disponibilidade dessas fontes, passando a ser mensal. O governo já decidiu que esse será o caminho.
O relatório expôs ainda um paradoxo no planejamento energético. O país investiu para tornar as fontes eólica e solar (renováveis intermitentes) competitivas e, agora, dependerá cada vez mais de térmicas, especialmente nos horários de pico.
Até 2034, a participação das térmicas deve saltar de 10% para 12%. Isso significa quase duplicar o parque instalado.
Já a fatia da geração hidrelétrica, que inclui as grandes usinas e as pequenas centrais (PCHs), deve cair de 49% para 39%, embora seja uma fonte renovável de entrega firme e permanente.
As usinas solares e eólicas devem passar de 21% para 24%. A microgeração distribuída (painéis solares presentes em casas de mais alto padrão e comércio), saltará de 13% para 18%.
Com Stéfanie Rigamonti