/ Apr 26, 2025

Corintianos, habemos técnico! – 25/04/2025 – Becky S. Korich

As malas estavam prontas. A torcida, idem. A camisa, esticada na cadeira. Os microfones, posicionados para a coletiva. Os memes já corriam soltos. Até o treinamento estava agendado. Só faltava a assinatura do papel —verbalmente, já estava assinado— e dar o pontapé inicial. Tite travou: bateu na trave.

Na véspera do anúncio, no intervalo entre uma noite de sonho e o amanhecer da realidade, o esquema mudou. O professor recuou. Sofreu uma crise de ansiedade, o que o levou a pedir tempo e a decidir dar uma pausa na carreira. Preferiu recuar para a zaga, escolheu se defender. Decidiu se proteger e proteger o seu maior time: a família.

A instabilidade na saúde mental do técnico impediu o retorno ao Bando de Loucos. Mais um paradoxo alvinegro.

Quem não estava preparado para esse plot twist eram as almas corintianas, sempre tão inquietas e ávidas. Justo agora? Justo na nossa vez? A sensação foi a mesma de perder de virada no último minuto da prorrogação. Haja coração.

Meu filho, corintiano roxo, ficou vermelho —não sei se de raiva ou vergonha por ter zoado os amigos palmeirenses no dia anterior. A única coisa que consegui falar para ele foi: “aceite que dói menos para nós, respeite que dói menos para o Tite”. O filho do Tite também sofreu, teve de recalcular a rota.

Os comentários, é claro, choveram no minuto seguinte ao anúncio: “Nem o Tite aguentou o Corinthians”; “Voltou o trauma de 2022?”; “Fugiu do rebaixamento”; “Tite desmarcou! Deve ter visto o elenco”. A verdade é que o técnico fez o que poucos têm coragem de fazer: priorizou a si mesmo. No país do “vai pra cima, professor”, ele foi pra dentro. Dentro de si, onde se deparou com um homem de 63 anos, cansado, vulnerável, mas também corajoso. Foi um recuo bonito, digno, uma tática acertada: Tite salvou o Corinthians. Se o técnico de um time não tiver condições de ser o suporte emocional dos jogadores, não há tática que vença.

Tite não está sozinho. O esporte, com toda a sua beleza e paixão, pode ser um ambiente cruel, cheio de pressões e cobranças. Exige mais do que o corpo. Exige da mente, da alma. Exige recordes, superações, exige o impossível —o que, às vezes, até acontece. Mas raramente oferece um espaço seguro para que atletas e técnicos se percebam e tenham a liberdade de dizer: “Não estou bem”.

Gabriel Medina decidiu se afastar de algumas etapas do circuito mundial de surfe, buscando equilíbrio em meio ao turbilhão de emoções vividas na época. Teve a sabedoria de sair da onda antes que ela o derrubasse. Nossa Rebeca Andrade, dona de seis medalhas olímpicas, passou por uma crise de ansiedade e quase jogou a toalha quando teve que lidar com três lesões no joelho. Richarlison parou pra pensar —e pra chorar—, quando comunicou que buscaria ajuda psicológica após enfrentar problemas pessoais que afetavam o seu desempenho na época.

A gigante Simone Biles escolheu a saúde mental em vez das medalhas, e despertou o mundo para a discussão necessária sobre saúde mental e esporte. Nenhum deles foi menos profissional por isso. Eles foram mais: mais lúcidos, mais maduros, mais conscientes dos seus limites. Saber parar antes de adoecer, saber pausar antes de destruir o que se ama ou uma relação com quem se ama —isso é sabedoria.

Habemos técnico. Apareceu a fumacinha branca. Temos Dorival Júnior. Sobrou para ele. O lugar estava predestinado para ser dele, um homem experiente, equilibrado e competente. Fiéis, agora é bola pra frente.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Notícias Recentes

Travel News

Lifestyle News

Fashion News

Copyright 2025 Expressa Noticias – Todos os direitos reservados.