Sob forte tiroteio nas últimas semanas, o presidente da Câmara, Hugo Motta, conseguiu ganhar tempo ao estancar a pressão pela votação do requerimento de urgência do projeto de anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro.
Motta conquistou fôlego político ao convencer os líderes da maioria dos partidos (exceto PL e Novo) a se posicionarem contra acelerar a tramitação. Isolou o partido de Jair Bolsonaro e, por enquanto, a anistia não se transformou na pauta prioritária do Congresso, como queria a oposição bolsonarista.
Os próprios líderes viram que não há ambiente para isso agora e devem buscar uma solução em conversas com o Supremo e o Planalto.
Nas discussões, prevaleceu a avaliação levada por Motta de que a anistia é hoje um assunto da bolha política e que as ruas não estão muito preocupadas com ela.
Mas como no Congresso o jogo é disputado semana a semana, não dá para saber até quando Motta vai conseguir segurar a pressão e qual será o papel do presidente Lula na barganha política para tirar a anistia da pauta do Congresso –o que foi negociado nos bastidores.
É sintomático que a principal notícia do jantar de Lula com Motta, na noite anterior à reunião dos líderes sobre a anistia, tenha sido o aviso do presidente de que é candidatíssimo nas eleições de 2026.
Além da urgência da anistia, Motta tirou da frente outros dois obstáculos que tumultuavam os trabalhos na Casa. Fez um acordo com o deputado Glauber Braga para encerrar a greve de fome, que havia iniciado após o Conselho de Ética recomendar a cassação de seu mandato, e liderou a cassação do mandato de Chiquinho Brazão, acusado de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco.
Com o respiro momentâneo de uma estratégia construída a conta-gotas, Motta sinalizou que vai concentrar a bandeira da sua gestão na pauta econômica (isenção do Imposto de Renda e novo consignado privado) e da segurança pública.
Mas ele errará se não incluir a pauta fiscal, que mais cedo ou mais tarde vai estourar antes das eleições do ano que vem.