Maior evento do setor no país, a Expozebu, em Uberaba (MG), chega aos 90 anos com a expectativa de bater recorde em leilões de gado, atrair os olhares do mundo para as raças zebuínas brasileiras e com a pecuária em alta.
Preço da arroba com forte valorização, vacas de elite comercializadas por mais de R$ 20 milhões, avanços genéticos que deixam o Brasil na liderança global do segmento e até mesmo decisões judiciais a favor do setor colocam a pecuária, e seu principal evento, que começa neste sábado (26), na vitrine.
Organizada pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), a Expozebu terá 39 leilões de gado –um a mais que em 2024–, com a expectativa de ultrapassarem os R$ 200 milhões em faturamento, ante os R$ 184 milhões obtidos na última edição.
Cotada a R$ 324,15 nesta quinta-feira (24), segundo o Cepea, da Esalq/USP, a arroba (15 quilos) do boi teve alta de 39,35% em apenas um ano, já que valia R$ 232,60 nos dias que antecederam a Expozebu do ano passado.
Mas, mais do que o preço da arroba do boi em si, a pecuária mira crescimento com tecnologia genética, que fazem com que animais sejam comercializados por valores impensáveis anos atrás.
Os resultados do melhoramento genético são visíveis a olho nu, com animais mais robustos, e no bolso dos pecuaristas que têm investido no setor.
Em novembro, a comercialização de 25% dos direitos de uma vaca por R$ 6,015 milhões num leilão a colocou como a mais cara já negociada no mundo, com um valor total projetado em R$ 24,06 milhões.
A vaca Carina FIV do Kado é vista como a mais importante matriz nelore no milionário mercado de gado de elite, superando Viatina-19 GIV Mara Móveis, que está no Guinness Book, o livro dos recordes, por ter tido seu valor projetado em R$ 21 milhões num leilão no primeiro semestre de 2024.
“Estamos otimistas, passando dois anos de crescimento, mesmo com um ciclo de baixa da valorização da arroba do boi gordo, nós estamos agora num viés de alta. Isso é importante, aquece o mercado e a venda de reprodutores. Conseguimos crescimento mesmo nessa época [de baixa], mostrando que valorizar a genética é ser mais sustentável e produzir mais. É mais fácil de fazer analogia com a boa semente, com a boa semente na pecuária genética”, afirmou o presidente da ABCZ, Gabriel Garcia Cid.
O melhoramento genético dos animais era algo inexistente quando o zebu surgiu no país. O nelore, a raça zebuína mais predominante no país, está presente no Brasil desde 1868, quando um navio proveniente da índia deixou na Bahia um casal de bovinos da raça, segundo a ACNB (Associação dos Criadores de Nelore do Brasil).
Dez anos após a chegada do primeiro casal, o imigrante suíço Manoel Ubelhart Lembgruber trouxe outro casal de nelore da Alemanha.
Hoje, 8 em cada 10 cabeças de gado do país são de raças zebuínas (além de nelore, gir, guzerá, brahman, indubrasil, sindi, cangaian e tabapuã), de forma pura ou cruzada.
Embora as importações tenham sido registradas por mais de cem anos, o total de bovinos que entraram no país não deve ultrapassar 10 mil unidades, segundo Luiz Antônio Josahkian, superintendente técnico da ABCZ.
“Se você for computar tudo, desde os primeiros até recentes importações de embriões, não deve ser um número diferente de 10 mil, o que significa que os animais foram totalmente desenvolvidos aqui mesmo”, disse.
O zebu deu muito certo no Brasil por ser de fácil adaptação aos diferentes biomas e atender expectativas dos produtores em relação à genética, com multiplicação e crescimento satisfatórios, tanto para carne quanto para leite, segundo especialistas.
Josahkian afirmou que a naturalização do animal –capacidade de adaptação quando transferida para outro lugar e ele se portar como se nativo fosse– ocorreu com o nelore e isso se multiplicou de forma vertiginosa.
TOURO CONSIDERADO ÍCONE É EMBALSAMADO E EXPOSTO EM MUSEU
Embalsamado e exposto no Museu do Zebu em Uberaba, o touro nelore Karvadi é considerado o principal reprodutor zebu na história do país. Ele chegou em 1962 e, segundo a ABCZ, de 15 milhões de bovinos registrados como PO (puros de origem), 13 milhões têm o touro no pedigree. Ele morreu em 1972 e está em Uberaba desde 2019.
Outros animais também tiveram destaque como reprodutores, como Golias, Taj Mahal e Godhavari (todos nelore) e Krishna (gir), mas nenhum como Karvadi, que além de suas qualidades superiores também se “beneficiou” de avanços genéticos que já existiam e aceleraram a reprodução.
As tecnologias usadas para a melhora genética do rebanho brasileiro –inseminação artificial, fertilização in vitro e transferência de embriões–, fizeram o país deslanchar e passar de importador de animais para exportador de genética superior, inclusive para a Índia. A genética zebuína mais procurada hoje é a leiteira, para países asiáticos e africanos, segundo o presidente da ABCZ.
“Em dezembro de 2023, pela primeira vez na história, foram exportados mais de 40 mil doses de sêmen, para serem usadas no melhoramento genético do gado lá da Índia. É um grande mercado, é o país mais populoso do mundo”, disse.
Uma das donas das vacas Carina e Viatina-19 é a Casa Branca Agropastoril, que participa da Expozebu desde a década de 1990, inicialmente com gado brahman e hoje com brahman e nelore.
A propriedade seleciona nelore há menos de dez anos e tem adotado um ritmo acelerado de aquisições de promessas e participações nas principais exposições do país. Viatina-19, que também pertence às empresas Napemo e HRO, foi adquirida ainda bezerra pela Casa Branca.
Diretora da empresa, Fabiana Marques Borrelli afirmou que ter sido consagrado como melhor expositor três vezes na feira mostra a qualidade genética dos animais levados à pista em Uberaba. “[Com] Elevado padrão de produtividade, com atributos de precocidade, fertilidade e qualidade de carcaça”, disse.
Na Expozebu deste ano, segundo a ACNB, são 1.347 nelores (nelore, nelore mocho e nelore pelagens), com 136 expositores de todas as regiões do país. O nelore, afirma Victor Miranda, presidente da associação, é “a raça-mãe da pecuária brasileira”.
A Alta, sediada em Calgary (Canadá), apresentará 60 novos touros zebuínos, disponíveis para visitação em sua central às margens da BR-050, em Uberaba.
Segundo a empresa, os meses de abril e maio são o momento em que os criadores brasileiros tomam decisões importantes, planejando o próximo período de monta.
A empresa também mira os visitantes internacionais da feira pecuária, já que tem exportado material genético para a Índia e para países das Américas do Sul e Central, como Colômbia, Equador, Bolívia e Costa Rica. Na unidade da cidade mineira, tem uma central de biotecnologia e difusão genética, que recebe 12 mil visitantes/ano.
“A tendência genética é positiva, e tem de ser. Quando você pega o reflexo disso, pensando na pecuária de corte na ponta, os dados mostram nos últimos 20 anos que a produtividade de carne por hectare dobrou. Saiu de 36 para quilos por hectare para 66. É muita coisa”, disse Josahkian.
Além dos ganhos em qualidade dos animais, preços e expectativas de recordes na Expozebu, a pecuária também poderá se beneficiar, segundo o presidente da ABCZ, de uma recente decisão de fevereiro do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), que afirmou que exportar gado vivo para ser abatido em outros países segue a legislação e não significa maus-tratos.
“Conseguimos mostrar [que não havia problemas] e termos essa liberação novamente. Isso é muito importante. A gente poder exportar animais vivos, a gente poder produzir aqui”, afirmou Cid.
A feira será aberta às 10h deste sábado e prosseguirá até o próximo dia 4 no Parque Fernando Costa, em Uberaba.