Imagine um bombeiro chamado para apagar um incêndio. Ele chega ao local e vê fumaça saindo de uma janela. Diante da cena, ele precisa decidir: agir imediatamente e correr o risco de causar danos sem necessidade ou esperar até ter certeza de que há fogo, arriscando perder o prédio inteiro. Cada escolha envolve um tipo de erro. E, no mundo dos investimentos, tomar a decisão errada também pode sair muito caro.
Em finanças, como na vida, errar é inevitável. Às vezes, erramos por excesso de cuidado. Outras vezes, por desprezar riscos reais. Mas nem todo erro pesa da mesma forma, e entender essa diferença pode fazer toda a diferença no seu patrimônio.
Na estatística, essas falhas são classificadas como erro do tipo I e erro do tipo II. O erro do tipo I ocorre quando agimos diante de um risco que, no fim, não existia. Já o erro do tipo II acontece quando ignoramos um risco real e pagamos caro depois. Embora ambos tragam consequências, o segundo costuma ser mais devastador.
No universo dos investimentos, o erro do tipo I aparece quando o investidor, tomado pelo medo, deixa sua carteira excessivamente conservadora na expectativa de uma crise que nunca se concretiza. Ele pode até perder ganhos, mas preserva o que construiu, especialmente em um ambiente de juros elevados, como o atual.
Já o erro do tipo II é mais traiçoeiro. Ele ocorre quando o investidor ignora sinais claros de deterioração econômica — inflação pressionada, crescimento fraco, endividamento público crescente — e insiste em manter uma estratégia arriscada, acreditando que “tudo vai se resolver”. Quando os problemas se materializam, o prejuízo é muito maior do que o simples atraso em ganhar.
O momento atual exige ainda mais cuidado. A política fiscal brasileira voltou a gerar incertezas e, nos Estados Unidos, medidas de protecionismo comercial somadas à piora da confiança do consumidor indicam uma desaceleração que não pode ser ignorada. Em um cenário assim, tanto agir impulsivamente quanto permanecer imóvel são armadilhas perigosas.
É justamente agora que o investidor precisa refletir: que tipo de erro sua carteira está mais exposta a cometer? Está exageradamente defensiva por medo? Ou está vulnerável por omissão diante de sinais de alerta que já se acumulam?
Embora nenhum caminho esteja livre de riscos, o erro do tipo II — a complacência diante do perigo — é o mais ameaçador para quem constrói patrimônio. Errar por excesso de cuidado pode custar alguns pontos percentuais de retorno. Errar por negligência pode custar anos de conquistas.
Reavaliar a carteira de tempos em tempos não é sinal de insegurança. É sinal de responsabilidade. Em momentos de incerteza, proteger o que foi construído é tão importante quanto buscar novos ganhos. E, mais do que nunca, entender que agir com prudência é melhor do que simplesmente esperar.
Porque o mercado não perdoa quem hesita.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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