Tentar enriquecer pegando dinheiro caro para aplicar em investimentos baratos é como abastecer o carro com gasolina a preço de ouro e sair vendendo corridas a preço de banana. No começo pode até parecer movimentado, mas, ao final da viagem, o prejuízo é inevitável. Foi com esse dilema que um leitor da Folha me procurou na semana passada, intrigado por uma oferta que havia recebido do gerente de seu banco.
O leitor relatou que o gerente lhe sugeriu tomar R$2 milhões emprestados e aplicar em um CDB. Com essa estratégia, acumularia um lucro de mais de R$ 1,1 milhões em 6 anos. Tentador, concorda? O problema estava nos detalhes.
O empréstimo seria a uma taxa de 23,79% ao ano e o leitor deveria aplicar o valor em um CDB que pagaria 15% ao ano, ambos com vencimento em seis anos, ou 72 meses. Você já deve ter pensado: como isso dá certo? Pois é. Também desconfiado, o leitor me enviou um e-mail perguntando se a conta fazia sentido.
Sim, havia uma conta para explicar o resultado. Entretanto, é importante entender que não é porque existe uma conta que ela está certa ou que faça sentido. A justificativa apresentada pelo gerente era simples. E é aí que mora o perigo, pois quando a conta é simples, parece mais fácil acreditar que ela é verdadeira.
Ele simplesmente multiplicou as parcelas mensais do empréstimo, de R$49,7 mil, pelo número de meses (72 meses) e chegou a um débito total de aproximadamente R$3,6 milhões para o empréstimo. Já o CDB deveria acumular cerca de R$4,7 milhões ao fim dos seis anos. Estas duas contas estão certas.
Então, ele subtraiu do valor final do CDB o custo do empréstimo e encontrou um ganho de R$1,1 milhão. Na teoria dos números isolados, parecia perfeito. No mundo real, nem tanto.
O erro não estava nos valores, mas na lógica por trás da análise. O gerente ignorava um ponto crucial: o dinheiro para pagar as prestações do empréstimo não surgiria do nada. Ele precisaria sair do bolso do cliente, mês após mês. Assim, enquanto o investimento no CDB permanecia imobilizado, o cliente teria de desembolsar recursos constantemente, impactando seu fluxo de caixa.
A maneira correta de calcular seria acompanhar o saldo do CDB mês a mês, subtraindo o valor pago nas parcelas antes de acumular o juros do rendimento. A cada mês, o investimento, ao invés de crescer livremente, teria seu potencial reduzido pelas retiradas necessárias para honrar a dívida. Quando se realiza essa conta corretamente, o cenário muda radicalmente: em vez de lucro, o resultado seria um prejuízo de aproximadamente R$857 mil.
Fico imaginando para quantos clientes esse gerente ofertou o mesmo “benefício”. Para muitos, que toparam, ele teria encontrado a máquina de fazer dinheiro. Estes clientes vão descobrir em alguns anos que a conta vai ser cara.
A verdadeira regra da alavancagem é simples: o custo do dinheiro deve ser inferior à taxa de retorno do investimento. Se você toma recursos a 23,79% ao ano para investir a 15%, a derrota é questão de tempo, não de sorte.
Existem situações em que a alavancagem é legítima, como em consórcios imobiliários, onde o custo gira em torno de INCC mais 2% ao ano e a valorização do imóvel pode acompanhar o INCC mais um prêmio adicional de 5% a 6% ao ano. Nesse contexto, a matemática trabalha a favor do investidor.
Casos como o que este leitor enfrentou mostram como, no mercado financeiro, a verdadeira inteligência não está em buscar milagres, mas em reconhecer as armadilhas disfarçadas de oportunidade. Antes de embarcar em promessas de ganhos fáceis, é sempre prudente fazer uma pergunta simples: de onde realmente sairá o dinheiro? Muitas vezes, a resposta revela que o lucro prometido já foi devidamente abatido — só não contaram isso para você.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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