O esquema bilionário de fraudes no INSS contém tantas linhas de investigação que será difícil o presidente da Câmara, Hugo Motta, segurar a pressão política para instalar uma CPI. O feriado de 1º de Maio não vai esfriar a crise, após a oposição na Casa protocolar o requerimento.
À medida que novas informações da investigação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União apareçam, a tensão aumenta.
Motta já matou no peito a pressão para votar o requerimento de urgência do projeto de anistia, e vem se aproximando do presidente Lula, inclusive em viagens conjuntas ao Vietnã e ao Japão —e, mais recentemente, ao funeral do papa Francisco.
Para aliados de Motta na Câmara, agora é hora de mostrar um distanciamento do Palácio do Planalto, e Lula que se vire com os parlamentares da base aliada que assinaram o requerimento. Esse é o clima do momento.
O escândalo tem enorme apelo popular por afetar aposentados e um dos mais importantes órgãos do governo federal, com canal direto junto à população mais vulnerável do país.
A despeito da polarização política que movimenta as redes sociais em torno de quem é o responsável pelo esquema, Jair Bolsonaro ou o presidente Lula, as fraudes perpassam vários governos e devem ser investigadas.
Pelo seu tamanho, exigem não só reparações financeiras aos segurados do INSS que foram lesados como é uma oportunidade única para o Congresso aproveitar o momento e aprovar o fechamento de brechas às irregularidades.
O Executivo não está sozinho no problema. O Legislativo tem sido parceiro, afrouxou medidas de controle e impediu o endurecimento dos mecanismos de combate às fraudes. Sem falar nas indicações políticas para os disputados cargos do INSS. O Judiciário também não tem feito a sua parte em punir as quadrilhas de fraudadores do órgão.
A CPI pode abrir a caixa de Pandora para investigar fraudes em outros benefícios. Aberta, ninguém segura. A dúvida é se os políticos vão querer mexer nesse vespeiro ou concluirão que, por segurança, é melhor abafar o caso.