O dólar interrompeu a sequência de oito quedas consecutivas e fechou em alta firme de 0,78% nesta quarta-feira (30), sob efeito dos dados econômicos dos Estados Unidos e do Brasil divulgados pela manhã.
A cotação final foi de R$ 5,675 —uma baixa acumulada de 0,56% desde o início de abril, mês marcado pelo tarifaço do presidente Donald Trump.
O câmbio também foi afetado pela formação da Ptax de fim de mês, definida em R$ 5,660. A taxa, calculada pelo BC (Banco Central) com base no mercado à vista, serve de referência para a liquidação de contratos futuros e costuma gerar volatilidade nas cotações, conforme os investidores tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições.
Já a Bolsa brasileira fechou perto da estabilidade, marcando leve variação negativa de 0,01%, a 135.066 pontos. No acumulado de abril, somou alta de 3,7%.
O Ibovespa ficou relativamente descolado dos índices acionários de Wall Street, que, após abrirem em forte queda, fecharam mistos.
O S&P500 subiu 0,14%, enquanto Nasdaq Composite em leve baixa de 0,09% e o Dow Jones avançou 0,35%.
Os mercados reagiram, principalmente, aos dados do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos.
A economia norte-americana recuou 0,3% na base anual durante o primeiro trimestre, captando a resposta das empresas americanas à guerra comercial de Trump.
A queda contrasta com o crescimento de 2,4% registrada no último semestre de 2024. Trata-se do maior recuo desde o primeiro trimestre de 2022.
A diminuição no PIB para o período era esperada por alguns analistas, mas foi pior do que algumas previsões. Economistas ouvidos pelo The Wall Street Journal, por exemplo, esperavam um crescimento de 0,4%.
A queda foi em grande parte resultado da corrida das empresas americanas para acumular estoques antes das amplas tarifas de Trump, com dados do Censo dos EUA na terça mostrando que o déficit comercial de mercadorias atingiu um recorde histórico em março.
Trump pediu paciência após os resultados e culpou seu antecessor, Joe Biden, pelo desempenho da economia.
“Este é o mercado de ações de Biden. Só assumi em 20 de janeiro. As tarifas começarão a valer em breve, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes. Nosso país prosperará, mas precisamos nos livrar do ‘excesso’ de Biden”, escreveu ele na rede Truth Social.
“Isso levará um tempo, não tem NADA A VER COM TARIFAS, apenas que ele nos deixou com números ruins, mas quando o boom começar, será como nenhum outro. SEJAM PACIENTES!!!”
Os EUA também divulgaram dados de emprego nesta quarta. O relatório ADP indicou que o setor privado abriu 62 mil postos de trabalho em abril, abaixo dos 147 mil criados em março e bem aquém das expectativas de 115 mil vagas de economistas consultados pela Reuters.
Os resultados fomentam a percepção de que a maior economia do mundo está se enfraquecendo e que as tarifas do governo Trump poderão acelerar o movimento.
O pregão ainda refletiu os números de março do PCE (índice de preços de gastos com consumo pessoal, na sigla em inglês), o medidor de inflação preferido do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).
O índice ficou inalterado em março, depois de avançar 0,4% em fevereiro. No acumulado de 12 meses, subiu 2,3%, desacelerando em relação aos 2,7% em fevereiro.
Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o PCE também ficou inalterado na comparação mensal, contra alta de 0,5% em fevereiro. Nos 12 meses até março, o núcleo da inflação aumentou 2,6%, após um avanço de 3,0% em fevereiro.
Já na ponta doméstica, o mercado repercutiu os dados de emprego da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).
A taxa de desemprego subiu a 7% no primeiro trimestre, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O indicador estava em 6,2% nos três meses finais de 2024, que servem de base de comparação.
Apesar do avanço, a taxa de 7% é a menor para um primeiro trimestre na série histórica, iniciado em 2012. O dado ainda veio exatamente em linha com as expectativas de analistas ouvidos pela agência Bloomberg.
Além disso, a dívida pública bruta do país recuou em março para 75,9% do PIB, sob efeito do crescimento da economia brasileira e de um resgate líquido de títulos apesar de uma pressão nos gastos com juros. Os dados foram divulgados pelo BC. No mês anterior, estava em 76,1%.