Nos últimos dias, o vórtice das redes sociais me tragou para perfis de influenciadores de etiqueta e boas maneiras à mesa. Gostaria de partilhar com vocês algumas coisas interessantes que aprendi nessa jornada.
Sorvete —perdão, sorbet— de limão deve ser comido com garfo.
Desejar “bom apetite” é uma gafe imperdoável.
Uma pessoa elegante deve degustar, no máximo, seis jabuticabas. Mais do que isso, a fruta provoca gases assaz deselegantes.
Nunca assopre a comida quente demais, muito menos mergulhe o pão na sopa.
É deselegante comer rabo na feijoada. Experimentar uma garfada da comida dos companheiros de mesa é inadmissível.
Em hipótese alguma coma o milho-verde na espiga. Em vez disso, sirva-o debulhado e espete os grãos com o garfo, um por um, para levá-los à boca.
Pessoas de fino trato comem hambúrguer e hot dog com talheres. O sanduíche de mortadela, por sua vez, deve ser segurado com as mãos.
A vida em sociedade requer a obediência a determinados códigos de conduta comum, inclusive na hora das refeições. Graças a essas regras, deixamos de sair na porrada por comida no jantar cavernícola.
Se ninguém discute a impertinência de liberar flatulências, espalhar farofa por todo lado ou roubar batata frita do vizinho, a etiqueta ditada pela aristocracia não passa de instrumento de exclusão social.
Serve como marcador de origem. Se a pessoa toma bomba no teste da ordem dos talheres num jantar formal, todos saberão que ela não tem berço. Gentalha, como diria Dona Florinda, personagem de “Chaves” (é elegante citar a obra de Roberto Bolaños).
Ninguém precisa saber operar pinças para escargot, tampouco o diacho da faca de peixe.
Espetar grão de milho com garfo? Ah, meu querido, vá pentear macaco para ele ficar elegante também!
Tem um janota britânico que ensina, num vídeo de intermináveis minutos, a comer uma banana ao modo da realeza, com garfo e faca. Aposto que o almofadinha nunca viu uma banana de verdade, só aquela tristeza insípida que chega ao arquipélago plúmbeo na Europa.
Deu para mim. Chega. Fiquem agora com uma receita de sanduíche de mortadela muito chique e refinado, para comer com garfo e faca só de ódio.
Rendimento: 1 porção
Tempo de preparo: cerca de 30 minutos
Ingredientes
- 1 tomate San Marzano (ou similar), cortado ao meio
- 1 focaccia ou ciabatta artesanal de longa fermentação, feita com farinha 00 italiana
- (ou similar)
- 50 g de mortadela Bologna
- (ou similar)
- 50 g de muçarela de búfala Campana
- (ou similar)
- 3 azeitonas Gaeta (ou similar), sem caroço
- Azeite de oliva extravirgem Terra di Bari (ou similar) a gosto
- Flor de sal e pimenta-do-reino moída na hora (ou similares)
Preparo
- Asse o tomate a 180º C por 15 minutos. Espere esfriar e remova a pele, delicadamente
- Abra o pão ao meio. Na metade inferior, regue com um pouco de azeite, em movimentos suaves e harmoniosos. Disponha as fatias de mortadela, sem exagero
- Parta com as mãos, gentilmente, a muçarela, o tomate assado e as azeitonas. Deite-os sobre a mortadela e tempere com flor de sal e pimenta em parcimônia
- Regue generosamente com mais azeite. Feche o sanduíche com a metade restante do pão. Deguste
