Um jeito de pensar nos atuais modelos de inteligência artificial é que eles representam uma forma radical de compressão da informação. Boa parte desses modelos é treinada com os dados da internet.
O tamanho desse conteúdo chega a 200 zetabytes. Se ele fosse armazenado em discos rígidos, seria necessário algo como 10 bilhões de HDs.
Esse conteúdo é processado por redes neurais, cujo treinamento consome quantidade gigantesca de energia (algo como 15 mil megawatt, suficientes para abastecer 75 mil residências por um mês). O resultado é acachapante.
Toda a informação transmuta-se em conhecimento, que, diferentemente da informação bruta, é contextualizado, interpretado e útil. O arquivo resultante passa a ter o tamanho em torno de 20 terabytes. Pode ser armazenado em um único HD. Há inclusive modelos de IA que cabem em um celular.
Desse arquivo é possível extrair em tese 200 zetabytes de informação. E talvez mais. Isso porque a inteligência artificial recombina a informação do treinamento, criando formas novas e diferentes do conteúdo original.
Essa informação comprimida em conhecimento é hoje acessada por meio de perguntas. Nós, seres humanos, provocamos o modelo de inteligência artificial com uma questão, que é então “respondida”. Dentro do modelo, o conhecimento existe apenas como potencial. É a pergunta que faz esse potencial colapsar em uma resposta concreta.
Dá para fazer uma comparação ilustrativa com a física quântica. Na mecânica quântica as partículas existem em condições probabilísticas, com múltiplas possibilidades (às vezes infinitas) coexistindo simultaneamente. Suas posições e estados não são únicos, ao contrário, estão em superposição. Somente através da observação uma partícula “colapsa” para um estado único definido.
Quando o observador interage com o sistema quântico, isso faz o sistema “apresentar” um estado específico entre os possíveis. Instantaneamente todos os outros estados desaparecem.
Com a inteligência artificial é a mesma coisa. Dentro do modelo, todas as respostas possíveis coexistem simultaneamente como potencial. É a pergunta, mediada pela consciência humana, que colapsa a incerteza e produz uma resposta única gerada pela IA.
Usei a palavra consciência de propósito. Hoje ela tem um papel importante tanto para a física quântica quanto para a inteligência artificial.
A consciência influencia diretamente o mundo físico? Tudo existe em estados múltiplos até ser observado? São enigmas que a física contemporânea não é capaz de responder. Para quem se interessa pelo papel da consciência no universo, vale procurar pelo trabalho do físico Roger Penrose e do anestesiologista Stuart Hameroff.
A questão que levanto aqui é se em algum momento a inteligência artificial será capaz de assumir a posição de “observador”, isto é, observar fenômenos físicos ou informacionais que existem em estado potencial (como outros modelos de IA) e com isso fazê-los colapsar com sua observação, diretamente. Para mim essa é a definição de superinteligência.
Já era: considerar a IA atual como análoga à consciência humana
Já é: compreender que a IA atual opera mais como o subconsciente, repleto de potenciais
Já vem: a hipótese de a IA assumir o papel de observadora da realidade