/ May 06, 2025

Belém vive inflação do turismo a seis meses da COP30 – 05/05/2025 – Ambiente

A inflação de itens ligados ao turismo em Belém tem crescido acima da média nacional e impactado a vida da população local a seis meses da COP30 (30ª conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas).

Embora possa ter causas distintas a depender do item, o aumento nos preços tem gerado reclamações entre moradores e parte deles culpa o evento a ser realizado no fim do ano. Os relatos dão uma amostra das reações distintas e nem sempre positivas de quem vive na capital paraense sobre os efeitos gerados pelo megaevento internacional.

A reportagem da Folha conversou com moradores da região metropolitana de Belém, que citaram valores elevados em diversas frentes. Um dos comentários mais comuns é sobre o reajuste dos aluguéis, mas há relatos também sobre aumento de preços de terrenos, materiais de construção e até alimentos típicos.

A assistente social Miseleine Guimarães, 43, afirma que conhece casos de aluguel de kitnets na cidade, antes em R$ 800, ao preço de R$ 1.500. “A única coisa que a COP30 vai trazer é aumento de preço para a população. Não vai ser boa para a gente em nada, só prejuízo”, opina.

O vendedor Antônio Marques, 54, afirma que teve o contrato de aluguel onde mora reajustado em 7,5% e que conhece vizinhos que tiveram que negociar um percentual ainda maior. “O evento, para quem mora aqui, não vai melhorar [a vida]”, diz.

Os números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que Belém tem uma inflação geral mais baixa que o Brasil como um todo, mas itens específicos ligados ao turismo (e potencialmente ao evento na capital paraense) chegam a superar o respectivo indicador nacional em 12 pontos percentuais.

Em 12 meses terminados em março de 2025, o percentual geral do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 4,81% em Belém, contra 5,48% no Brasil. Quando se analisam itens específicos, a ordem se inverte.

Os preços de hospedagem em Belém, por exemplo, subiram 17,37% na cidade-sede da COP30 —enquanto em todo o Brasil avançaram 11,5%. O valor do aluguel residencial subiu 8,43% em Belém —em todo o país cresceu 4,87%.

De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, a inflação de cada item em Belém pode ter diferentes causas. Como cada um tem uma cadeia produtiva e uma logística diferentes, só um estudo mais aprofundado poderia identificar todos os motivos com maior precisão.

Os números são acompanhados pelo aumento no fluxo de visitantes. A concessionária do aeroporto de Belém, a NOA (Norte da Amazônia Airports), diz que no primeiro trimestre o movimento de passageiros foi de 946 mil passageiros, 11 mil (ou 1,1%) a mais do que no mesmo período de 2024.

A empresa calcula um movimento ainda maior nos feriados. De acordo com as estimativas da empresa, a Semana Santa teve uma movimentação 30% maior que um ano antes. O mesmo percentual de crescimento foi projetado para o feriado do Dia do Trabalhador.

A expectativa é que a COP30 continue mantendo esses números em alta, já que são esperados até 50 mil visitantes no evento de novembro. Como a cidade não tem leitos de hotéis para acomodar um público tão grande, moradores estão reformando e expandindo suas casas como forma de aproveitar a demanda por hospedagem –mas também nesse ponto a inflação está presente.

A professora aposentada Ana Maria Cardoso de Sousa, 61, diz estar usando tudo o que ganha, o que inclui também o cultivo do açaí, para construir duas suítes para receber os visitantes em novembro. Ao longo da obra, ela sentiu os preços dos materiais de construção escalarem.

“Comecei comprando o milheiro [mil unidades] do tijolo a R$ 600, hoje está de R$ 800 a R$ 850. Isso em menos de um ano. Eu cheguei a comprar o esteio por R$ 100, hoje é R$ 250”, diz.

Ela mora na ilha do Combu, onde só é possível chegar de barco. “Está naquele processo de acabamento, que é delicado e caro. Ainda mais considerando que a gente compra tudo na cidade, aí eles entregam no porto e a gente tem que pagar o transporte para cá. Sai muito mais caro [do que para quem vive na cidade]”, afirma. Apesar disso, ela vê o evento como positivo para ela e a cidade.

O IPCA mostra que a inflação do tijolo em 12 meses terminados em março chegou a 12,43% em Belém, enquanto em todo o Brasil ficou em 4,55%. O preço do mobiliário subiu 14,26% na capital paraense, enquanto na média nacional o avanço foi de 3,52%.

Nas ilhas ao redor de Belém, os investimentos da população local também podem ser vistos na forma de restaurantes sendo construídos ou expandidos para receber os visitantes. Próximos a eles, diversos lotes ainda têm placas para venda ou aluguel.

Rosivaldo Quaresma, 49, proprietário de um restaurante já estabelecido há anos na ilha do Combu, afirma que os lotes à beira do rio estão mais caros devido ao evento.

“Por causa da COP, o cara botou o preço lá em cima, e aí tem dificuldade de vender. Os caras estão pedindo R$ 200 mil, R$ 300 mil. Antes chegava a comprar por R$ 80 mil, R$ 100 mil”, afirma.

Ele diz que os custos para quem quiser comprar um terreno e abrir um estabelecimento são altos e a clientela demora a aparecer. “Como o turismo começou a crescer e o pessoal viu que aqui é um meio de ganhar dinheiro, começaram a investir. Mas o cara que vem de Belém ou de outro estado tem que gastar muito. Quando chega a baixa temporada, não tem como cobrir a despesa”, avalia.

Apesar disso, ele prevê que o balanço da COP30 será positivo para os moradores.

Outro relato recorrente de alta nos preços é dos alimentos típicos comprados por turistas. Nesse caso, o regime de chuvas abaixo do normal em 2024 afetou a safra e, por consequência, o valor de produtos como o cacau e a pupunha.

De acordo com feirantes, o pote de açaí, no começo do ano a R$ 12, chega agora a R$ 60, a depender do estabelecimento. O barril de cachaça com plantas locais, antes a R$ 100, agora está a R$ 600. A castanha-do-pará, que custava R$ 60 o quilo, hoje chega a R$ 130.

Apesar de reconhecerem as condições climáticas mais difíceis nesta temporada, parte dos moradores acredita que a COP30 vai agravar a situação. “Alimentação é o que mais vai subir. Eles vão colocar no preço do turismo”, afirma Miseleine.

O jornalista viajou a convite do Governo do Pará.

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