SUVs mais vendidos do Brasil, Volkswagen T-Cross e Hyundai Creta somaram 32,9 mil unidades emplacadas no primeiro trimestre, segundo dados da Fenabrave (associação dos distribuidores de veículos). O segredo do sucesso, certamente, não envolve o custo-benefício.
Os modelos passaram pelo teste Folha Mauá em versões intermediárias, cujos valores se aproximam do pedido por modelos de maior porte. Mas é preciso dirigir para avaliar o porquê de tantos consumidores optarem por esses compactos.
O primeiro carro avaliado foi o T-Cross. Trata-se do líder absoluto do seu segmento, com 18,4 mil licenciamentos entre janeiro e março. Grande parte se deve a vendas diretas, já que o modelo é um dos mais procurados no segmento de locação de longo prazo.
A Volkswagen melhorou o acabamento na linha 2025. A versão testada foi a Comfortline (a partir de R$ 171.490), que veio com bancos com forração cinza imitando couro (opcional que custa R$ 3.190) e tela sensível ao toque com 10,25 polegadas e ótima resolução. É um dos pontos que seduzem compradores ávidos por tecnologias a bordo.
O pacote de itens de série inclui leitores de faixa que ajudam a manter o carro em sua pista, frenagem autônoma em caso de colisão iminente, seis airbags e piloto automático adaptativo, que acelera e freia o carro para acompanhar o ritmo do trânsito.
O ar-condicionado tem regulagem digital de temperatura e há carregamento por indução para smartphones. Soma-se ainda os itens comuns à maioria dos carros zero-quilômetro vendidos hoje no Brasil: direção assistida e acionamento elétrico de vidros, travas e retrovisores.
Os equipamentos fazem o preço parecer condizente, mas a motorização não oferece o brilho esperado para um carro que custa mais de R$ 170 mil. O motor 1.0 turbo flex (128 cv) tem calibração que privilegia a economia de combustível, e isso gera algumas reações estranhas no uso cotidiano.
VOLKSWAGEN T-CROSS COMFORTLINE
Preço: R$ 171.490 (maio/2025)
Motorização: flex, turbo, 999 cm³; 128 cv com etanol e 116 cv com gasolina, a 5.500 rpm
Torque: 20,4 kgfm com etanol ou gasolina, a 2.000 rpm
Transmissão: câmbio automático, seis marchas
Pneus: 205/55 R17
Peso: 1.163 kg
Porta-malas: 373 litros
Comprimento: 4,22 m
Largura: 1,76 m
Altura: 1,57 m
Entre-eixos: 2,65 m
Capacidade do tanque: 49 litros
Aceleração (0 a 100 km/h, em segundos): 10,3 (etanol) e 10,7 (gasolina)
Retomada (80 km/h a 120 km/h, em segundos): 7 (etanol) e 7,5 (gasolina)
Consumo urbano (km/l): 9,8 (etanol) e 12,1 (gasolina)
Consumo rodoviário (km/l): 15,1 (etanol) e 19,9 (gasolina)
Autonomia rodoviária com etanol (a 90 km/h): 740 km
Autonomia rodoviária com gasolina (a 90 km/h): 975 km
Nas manobras de estacionamento, o motorista percebe um pequeno tranco ao sair da imobilidade tanto para frente como ao acionar a ré. É resultado do ajuste do câmbio automático de seis marchas combinado ao motor turbinado. Na verdade, é como se o carro demorasse alguns décimos de segundo para reagir ao comando do acelerador.
Após se acostumar com essa característica, o convívio com o T-Cross se torna agradável. A posição ao volante, o espaço no banco traseiro e o silêncio na cabine fazem o SUV compacto parecer um carro maior, apesar de o porta-malas se contrapor a essa percepção.
São 373 litros disponíveis com o encosto do assento na posição normal. É possível ganhar alguns litros ao colocar essa parte do assento em posição praticamente vertical, mas isso prejudica o conforto dos passageiros.
O Hyundai Creta não tem esse problema: seu porta-malas acomoda 422 litros de bagagens, sendo um dos melhores entre os SUVs compactos. Há bom espaço para os passageiros e capricho no acabamento, que combina tecido preto e vermelho na versão N-Line (R$ 188.720).
O aspecto tecnológico é visto na tela que integra central multimídia e quadro de instrumentos. Os bancos são largos e macios, típicos de modelos mais luxuosos, e há teto solar como item de série. No T-Cross, esse equipamento é vendido à parte, em um pacote que custa R$ 7.550.
O desenho da dianteira é exclusivo na versão N-Line, que recebe uma moldura em plástico cinza na parte inferior do para-choque. Parece um autêntico esportivo, mas é apenas imagem.
O motor 1.0 turbo flex (120 cv) não se destacou nas provas de aceleração. O Creta precisou de 13 segundos para ir do zero aos 100 km/h quando abastecido com gasolina, de acordo com as medições feitas pelo Instituto Mauá de Tecnologia. Na mesma condição, o T-Cross foi 2,3 segundos mais rápido.
HYUNDAI CRETA N-LINE
Preço: R$ 188.720 (maio/2025)
Motorização: flex, turbo, 998 cm³; 120 cv com etanol ou gasolina, a 6.000 rpm
Torque: 17,5 kgfm com etanol ou gasolina, a 1.500 rpm
Transmissão: câmbio automático, seis marchas
Pneus: 215/60 R17
Peso: 1.270 kg
Porta-malas: 422 litros
Comprimento: 4,33 m
Largura: 1,79 m
Altura: 1,64 m
Entre-eixos: 2,61 m
Capacidade do tanque: 50 litros
Aceleração (0 a 100 km/h, em segundos): 12,1 (etanol) e 13 (gasolina)
Retomada (80 km/h a 120 km/h, em segundos): 8,7 (etanol) e 9,4 (gasolina)
Consumo urbano (km/l): 9,8 (etanol) e 13,1 (gasolina)
Consumo rodoviário (km/l): 14,7 (etanol) e 19,2 (gasolina)
Autonomia rodoviária com etanol (a 90 km/h): 735 km
Autonomia rodoviária com gasolina (a 90 km/h): 960 km
Ajudado pelo baixo peso (107 kg a menos que o Hyundai), o modelo da Volkswagen foi também superior nas provas de retomada e de consumo. Para os apressados, é a melhor escolha.
Contudo, o Creta tende a agradar aos consumidores que desejam um automóvel mais refinado e baseiam essa percepção no que se vê e no que se toca. O modelo de origem sul-coreana traz materiais e cores que remetem a segmentos superiores.
Os itens de série do Creta são basicamente os mesmos do T-Cross, com exceção do piloto automático adaptativo. Nesse quesito, as versões avaliadas trazem pacotes que não devem nada aos SUVs nacionais do andar de cima, como Jeep Compass (de R$ 186.990 a R$ 291.990) e Toyota Cross Corolla Cross (de R$ 179.190 a R$ 219.890).