Operadores dos maiores bancos de investimento da Europa entregaram suas maiores receitas trimestrais em pelo menos uma década. O resultado vem após a volatilidade induzida por Donald Trump nos mercados financeiros ter desencadeado um frenesi de atividades em ambos os lados do Atlântico.

UBS, BNP Paribas, Société Générale, Barclays e Deutsche Bank relataram nas últimas semanas um total combinado de 13 bilhões de euros (R$ 83,6 bi) em receitas provenientes de negócios no mercado de ações e renda fixa entre janeiro e março, o maior total trimestral combinado para os cinco credores desde pelo menos 2015.

O desempenho dos bancos europeus reflete os excelentes retornos de negociações apresentados pelos pares americanos durante os primeiros três meses do ano, com os cinco maiores bancos de Wall Street obtendo quase US$ 37 bilhões (R$ 210, 4 bi) em receitas combinadas durante o período.

Desde seu retorno à Casa Branca em janeiro, Trump introduziu um período de incerteza econômica, provocando oscilações selvagens nos mercados de ações, títulos e moedas que criaram oportunidades para os operadores explorarem.

“A volatilidade do mercado é amplamente favorável aos negócios de mercado global para os bancos, como é o nosso caso. A disrupção é administrável para todos de uma perspectiva macro”, disse o CEO do SocGen, Slawomir Krupa, aos analistas.

O primeiro trimestre de 2025 produziu um desempenho recorde nas divisões de mercados do UBS e BNP Paribas. As receitas de trading do banco suíço aumentaram quase um terço para US$ 2,5 bilhões (R$ 14,2 bi) em comparação com o mesmo período do ano anterior, enquanto o maior banco da França registrou um recorde histórico de 2,8 bilhões de euros (R$ 18 bi) em receitas de trading durante o trimestre.

O Deutsche Bank —que não possui mais um braço de negociação de ações— e o Barclays relataram um aumento de 17% e 21%, respectivamente, no trading de renda fixa, moedas e commodities (FICC) em comparação com o primeiro trimestre de 2024, superando todos os credores de Wall Street em ganhos percentuais em FICC no período.

O desempenho de negociações do SocGen foi impulsionado por seu negócio de ações, onde as receitas aumentaram mais de um quinto em relação ao ano anterior, chegando a 1,06 bilhão de euros (R$ 6,8 bi), enquanto sua divisão de renda fixa registrou um leve declínio.

Depois de produzirem retornos e pagamentos aos acionistas escassos durante grande parte da última década, os credores europeus viram uma reviravolta nos últimos anos, com taxas de juros mais altas impulsionando a receita líquida de juros —a diferença entre os juros que os bancos recebem dos tomadores de empréstimos e pagam aos depositantes.

No entanto, as divisões de trading dos bancos também se beneficiaram de períodos de volatilidade do mercado, começando com a pandemia de Covid-19 em 2020, e seguido por oscilações significativas do mercado no início de 2022, após a Rússia invadir a Ucrânia e os bancos centrais aumentarem rapidamente as taxas de juros.

Antes do trimestre mais recente, os primeiros três meses de 2022 detinham o título de melhor trimestre para os negócios dos bancos europeus no mercado de ações desde pelo menos 2015, com os cinco bancos produzindo 12,8 bilhões de euros (R$ 82,3 bi) em receitas combinadas nesse período. O Credit Suisse também era um player significativo em trading de ações e FICC na Europa antes de seu colapso em 2023.

Sergio Ermotti, CEO do UBS, disse que o banco suíço havia visto “um enorme pico na atividade dos clientes e volatilidade” no início do segundo trimestre, depois que Trump anunciou um tarifaço em 2 de abril, desencadeando uma liquidação no mercado.

“Em alguns dias, os volumes de negociação excederam seu pico da era Covid em cerca de 30%”, disse ele, descrevendo os níveis de atividade como “bastante excepcionais”.

Andrew Coombes, analista do Citigroup, disse: “Isso é um bom presságio para as receitas de mercados do segundo trimestre, após os fortes resultados de ações e FICC no primeiro trimestre”.

“[Ermotti], no entanto, confirmou que agora há um grau de fadiga dos investidores e desde então retornou a um ambiente de negociação mais normalizado”, acrescentou Coombes.