Em 2024, a maior montadora do mundo estava em alta. Os consumidores americanos estavam comprando os híbridos da Toyota, e um iene fraco inflacionava o valor dos lucros da empresa. Em maio daquele ano, a Toyota relatou o maior lucro anual já registrado por uma empresa japonesa.

Nesta quinta-feira (8), a Toyota apresentou uma perspectiva significativamente mais pessimista, projetando que seu lucro operacional diminuiria cerca de 20% para o ano fiscal que termina em março.

A montadora citou obstáculos de um iene mais forte e previu um impacto de US$ 1,3 bilhão das tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apenas em abril e maio. A empresa estimou o efeito das tarifas automotivas, que começaram em abril, somente para esses dois meses.

Além disso, o impacto das taxas é “muito difícil de prever”, disse o CEO da Toyota, Koji Sato, em um coletiva de imprensa. “O ambiente atual que envolve a indústria automobilística, incluindo relações comerciais, está em contínua mudança”, disse.

A incerteza da previsão da Toyota ressalta como o vaivém da agenda tarifária de Trump está transformando a indústria automobilística e deixando muitas empresas globais incapazes de estimar perspectivas futuras.

Uma tarifa de 25% sobre importações de veículos para os Estados Unidos, implementada no início do mês passado, foi estendida para autopeças na semana passada.

O problema que a Toyota já está experimentando com as tarifas também destaca o difícil impasse que o Japão enfrenta em suas negociações em curso com o governo Trump.

Enquanto Trump pausou um imposto geral de 24% sobre importações do Japão até o início de julho, tarifas automotivas mais altas já estão em vigor e prejudicando a principal indústria do país. Automóveis e autopeças são, de longe, a principal exportação do Japão para os Estados Unidos.

Ryosei Akazawa, principal enviado de Tóquio para as negociações tarifárias, disse recentemente que as novas tarifas dos EUA estavam custando a uma montadora japonesa US$ 1 milhão por hora.

No entanto, as negociações avançaram lentamente, emperrando pelo menos em parte porque Washington sinalizou que a principal demanda do Japão —uma isenção de tarifas automotivas— não está em negociação.

Após retornar da última rodada de negociações em Washington, Akazawa disse no fim de semana que os dois lados não conseguiram encontrar um terreno comum.

O primeiro-ministro Shigeru Ishiba pediu paciência, dizendo que o Japão não deveria se apressar para chegar a um acordo que sacrificaria os interesses de longo prazo do país.

Economistas e autoridades estão preocupados com o potencial impacto mais amplo das tarifas na economia japonesa, já que as montadoras e sua extensa rede de fornecedores de peças formam a espinha dorsal da produção industrial no Japão.

Na semana passada, o banco central do Japão reduziu para menos da metade sua previsão de crescimento econômico, citando a imposição de um “nível sem precedentes” de tarifas pelos Estados Unidos.

As declarações da Toyota nesta quinta sugeriram um período desafiador à frente para a indústria automobilística japonesa como um todo, particularmente porque a maioria dos analistas considera a Toyota entre as montadoras japonesas menos vulneráveis às tarifas de Trump.

Dos mais de 2,3 milhões de veículos que a Toyota vende anualmente nos Estados Unidos, apenas cerca de 500 mil são exportados do Japão. E apesar do golpe tarifário nos lucros, a empresa previu que suas vendas na América do Norte aumentariam neste ano fiscal em 237 mil unidades.

Montadoras japonesas menores como Mazda e Subaru vendem uma proporção significativamente maior de veículos importados nos Estados Unidos, enquanto a Mitsubishi Motors não tem fábricas no país.

A segunda e terceira maiores montadoras do Japão, Honda e Nissan, devem anunciar os resultados do ano fiscal na próxima semana.

Montadoras fora do Japão também estão antecipando dificuldades. Na semana passada, a General Motors reduziu sua previsão de lucro para 2025 em mais de 20%, citando aumentos de custos projetados de US$ 4 bilhões ou mais este ano devido às tarifas de Trump

Muitas montadoras europeias suspenderam suas previsões financeiras para 2025 devido às incertezas tarifárias.