“Finalmente meus pais aceitaram o fato de eu ter largado a faculdade para abrir minha empresa”, postou uma ex-aluna que me procura de tempos em tempos para ajudá-la a tomar decisões de carreira. Ela estava certíssima em abandonar os estudos. O problema foi quando começou a postar que outros deveriam fazer o mesmo. Chamei-a para uma conversa. Generalizar a partir de um exemplo é perigoso; ela é a exceção, não a regra.
Ela vai levar uma vida extraordinária; na sua definição literal. Ou vai mudar o mundo ou vai se ver no fundo do poço. Seu erro é achar que todos têm as mesmas ambições e energia. No fundo, a maioria quer uma vida tranquila; poucos estão dispostos a viver fora dos padrões da sociedade, para o bem e para o mal —a vida de Putin também é extraordinária, afinal.
No fundo, o que vale para mercados financeiros também vale para decisões fundamentais de longo prazo: quanto maior o risco que alguém está disposto a aceitar, maior o possível retorno (mas também maior a possível perda). O ser humano médio é avesso ao risco.
O melhor aluno que já tive passou em concurso para o Banco Central no último ano de faculdade. Ele veio conversar, pois estava indeciso sobre assumir o cargo. Falei que ele poderia apostar em si mesmo se quisesse.
Se fosse explorar o mercado privado ou de pesquisa, poderia sempre mudar para o setor público, mas o inverso era mais difícil: uma vez que os anos de serviço se acumulam, é mais difícil pular para o setor privado. Enquanto nós, meros mortais, podemos duvidar das nossas habilidades, ele não tinha esse problema: todos ao seu redor sabiam que sua capacidade de estudo era inigualável.
Todavia, seus pais e amigos não conseguiam entender qualquer decisão que não fosse agarrar um bom emprego com estabilidade com todas as forças. Eles o convenceram. Anos depois, soube que ele estava extremamente infeliz com sua rotina, se sentindo subutilizado. As decisões mais confortáveis também têm seu preço.
Não há como mudar trajetória pessoal ou social sem colocar o seu na reta. Por mais que deteste Elon Musk, reconheço que parte da sua trajetória envolveu tomar decisões fora do normal. Ele era o maior acionista da PayPal e, quando ela foi vendida, botou US$ 180 milhões no bolso.
Qualquer pessoa normal separaria parte dos recursos. Musk colocou US$ 100 milhões na SpaceX, US$ 70 milhões na Tesla e US$ 10 milhões na Solar City, pegando dinheiro emprestado para pagar o aluguel. As três empresas quase foram à bancarrota em 2008; ele ficou realmente perto de perder tudo.
Se toda a sua fortuna é “justa” ou não, pouco importa. Aqui, ressalto que Musk tomou decisões fora da caixinha em vários momentos (e hoje paga por ter destruído sua reputação como consequência de algumas).
Precisamos ensinar nossos filhos que vidas extraordinárias são conquistadas somente com alto risco e desconforto. Tudo bem buscar uma vida tranquila. Mas desde que não vá reclamar que a vida é injusta por não ter alcançado seus maiores sonhos. Ou vá para a internet jogar para baixo os que tentam sobressair.
A vida é injusta, mas ninguém vai conquistar o que quer entrincheirado no sofá. Sua vida é extraordinária? Não é só sorte ou ter nascido rico para que portas se abram. Também depende de você. E só de você.