/ May 11, 2025

Tarifas de Trump: Xi Jinping já esperava guerra comercial – 10/05/2025 – Mercado

Xi Jinping tem se preparado para este momento há anos.

Em abril de 2020, muito antes de Donald Trump lançar uma guerra comercial que abalaria a economia global, o líder máximo da China realizou uma reunião com altos funcionários do Partido Comunista e apresentou sua visão para virar o jogo contra os Estados Unidos em um confronto.

As tensões entre seu governo e a primeira administração Trump vinham aumentando devido a uma rodada anterior de tarifas e restrições tecnológicas. As coisas pioraram após o irrompimento da Covid-19, que paralisou o comércio global e expôs o quanto os Estados Unidos, e o resto do mundo, precisavam da China para tudo, desde máscaras cirúrgicas até medicamentos para dor.

Diante das preocupações de Washington sobre o desequilíbrio comercial, a China poderia ter aberto sua economia para mais empresas estrangeiras, como havia prometido fazer décadas atrás. Poderia ter comprado mais aviões americanos, petróleo bruto e soja, como seus funcionários haviam prometido a Trump durante as negociações comerciais. Poderia ter parado de subsidiar fábricas e empresas estatais que produziam aço e painéis solares tão baratos que muitos fabricantes americanos fecharam as portas.

Em vez disso, Xi escolheu um curso de ação agressivo.

Os líderes chineses devem “apertar a dependência das cadeias de produção internacionais em relação ao nosso país, formando uma poderosa capacidade de contra-atacar e dissuadir partes estrangeiras de interromper artificialmente os suprimentos” para a China, disse Xi em seu discurso à Comissão Central de Assuntos Financeiros e Econômicos em 2020.

Em termos simples: a China deveria dominar o fornecimento de coisas que o mundo precisa, para fazer seus adversários pensarem duas vezes antes de usar tarifas ou tentar bloquear relações comerciais com a China.

Xi aumentou as exportações e aprofundou a posição da China como principal polo mundial de indústria, em parte direcionando o sistema bancário comercial controlado pelo Estado a emprestar US$ 2 trilhões (R$ 11,3 trilhões) adicionais a tomadores industriais nos últimos quatro anos, de acordo com dados do banco central da China.

Ele também introduziu novas armas de guerra econômica no arsenal do país: controles de exportação, leis antimonopólio e listas negras para retaliar contra empresas americanas.

Então, quando a atual administração Trump impôs enormes tarifas sobre produtos chineses, a China foi capaz de partir para a ofensiva. Além de retaliar com seus próprios impostos, impôs restrições à exportação de uma ampla gama de minerais críticos e ímãs, cujo fornecimento global a China havia dominado. Tais minerais são essenciais para a montagem de tudo, desde carros e drones até robôs e mísseis.

Nos Estados Unidos, a ameaça iminente de prateleiras vazias nas lojas e preços mais altos ao consumidor está pressionando a administração Trump. Os preços de alguns minerais críticos triplicaram desde que a China revelou suas restrições, de acordo com a Argus Media, uma empresa londrina de pesquisa de commodities.

“Trata-se de inverter a alavancagem para que o mundo dependa da China, e a China não dependa de ninguém. É uma reversão do que irritava tanto X: o fato de a China ser tão dependente do Ocidente”, disse Kirsten Asdal, ex-consultora de inteligência do Departamento de Defesa dos EUA que agora dirige uma empresa de consultoria focada na China, a Asdal Advisory.

A China ainda depende do Ocidente para muitas tecnologias avançadas, como semicondutores de ponta e motores de aeronaves. Mas sua disposição de transformar a cadeia de suprimentos em arma pode ser um dos exemplos mais gritantes de como Xi está redefinindo o relacionamento da China com o mundo e desafiando a supremacia dos Estados Unidos como nenhum líder chinês antes dele.

CHINA QUER FAZER MUNDO ESCOLHER LADO

Mesmo que estejam agora iniciando conversas que, segundo funcionários dos EUA, visam reduzir as tensões, as duas nações parecem determinadas a uma competição sem limites, particularmente sobre tecnologias cruciais que moldarão o futuro, como a inteligência artificial.

Sua rivalidade pode começar a dividir o mundo em esferas de influência concorrentes. Com os Estados Unidos pressionando outros países a restringir o comércio com a China, e Pequim advertindo que punirá nações que o fizerem, a pressão para escolher lados está aumentando.

“A China usará todas as ferramentas à sua disposição para causar dor e impor custos aos EUA e a qualquer país que se alinhe com os EUA”, disse Evan Medeiros, professor de estudos asiáticos na Universidade Georgetown que foi conselheiro para a Ásia do Presidente Barack Obama.

“O mundo inteiro”, continuou Medeiros, “está prestes a descobrir a resposta para uma questão muito importante: quão dependentes somos do comércio com a China, e quanto isso vale para nós?”

A administração Trump já mostrou que não pode cortar completamente os laços comerciais com Pequim. Ela isentou smartphones chineses, semicondutores e outros eletrônicos de algumas de suas tarifas. Trump também recuou nas tarifas sobre fabricantes de automóveis. A China, por sua vez, indicou discretamente que poderia excluir alguns semicondutores, medicamentos que salvam vidas e outros produtos de saúde de suas tarifas de 125% sobre produtos americanos.

Ainda assim, a enxurrada de tarifas atinge o coração do motor de crescimento da China. As exportações têm sido um dos únicos pontos positivos em uma economia gravemente enfraquecida por uma crise imobiliária e pela queda na confiança do consumidor. Se a guerra comercial se arrastar, poderá resultar em milhões de empregos perdidos na China, estimam os analistas.

‘NUNCA SE AJOELHE!’

Xi vem dizendo há anos que os Estados Unidos estão empenhados em frustrar a ascensão da China, e a guerra comercial parece ter validado seus avisos.

Ele parece mais inclinado do que nunca a flexionar os músculos da China, dizem os analistas, vendo a disputa comercial como um teste de sua autoridade como o líder chinês mais poderoso desde Mao Zedong. E sua estratégia reflete sua percepção de que a China não é mais mais fraca que os Estados Unidos.

A China expandiu seu domínio em baterias de íon-lítio usadas para alimentar veículos elétricos, robôs de ponta para manufatura, painéis solares e turbinas eólicas. Especialistas dizem que a China também está alcançando os Estados Unidos em inteligência artificial, considerada a linha de frente da próxima revolução industrial.

Xi também apertou seu controle sobre o vasto aparato de propaganda da China, que se intensificou nas últimas semanas para mobilizar o público para uma “luta” prolongada. O Ministério das Relações Exteriores postou um vídeo sobre o conflito comercial nas redes sociais intitulado “Nunca se Ajoelhe!”

“A guerra comercial é a validação definitiva de que forças hostis ocidentais estão tentando conter, suprimir e cercar a China”, disse Asdal. “Xi está dizendo: ‘Temos que ser homens o suficiente e fortes o suficiente para revidar’.”

Mesmo que Xi acabe tendo que recuar primeiro, ele poderia apresentar uma retirada tática como uma vitória sobre Trump.

“Essa concentração de autoridade permite ao líder chinês tomar decisões políticas abrangentes sem ser desafiado —e reverter o curso com a mesma rapidez”, escreveu Zongyuan Zoe Liu, pesquisadora do Conselho de Relações Exteriores, em um artigo recente para a revista Foreign Affairs.

OS CUSTOS PARA A CHINA

Não está claro se a estratégia de longo prazo de Xi tornará a China forte o suficiente para superar os Estados Unidos como a principal superpotência. O foco em tecnologias críticas e autossuficiência econômica piorou as fricções com os parceiros comerciais da China, e isso tem um custo para muitas famílias chinesas.

Os líderes americanos costumavam dizer que, se a China expandisse seus vínculos econômicos com o Ocidente, ela gradualmente se moveria em direção à liberalização política e a um abraço total aos mercados livres. Mas a China avançou em seus próprios termos, misturando seu sistema autoritário de partido único com o capitalismo e enriquecendo sem perder o controle político.

Xi redobrou esse modelo, direcionando mais capital para empresas e bancos estatais para garantir que o Partido Comunista tivesse ainda mais influência sobre a direção da economia. Os empreendedores já tiveram espaço para crescer, mas sob Xi, os funcionários ditam quais indústrias prosperam e quais fracassam. Uma economia mais aberta, impulsionada pela demanda do mercado e não por mandato político, poderia ter expandido as fileiras e a influência das empresas e dos consumidores de classe média da China.

Mas isso poderia ter representado um desafio ao controle do partido sobre a sociedade.

“Esta não é uma economia que um governo estatista deseja, e é por isso que o subconsumo há muito é reconhecido como um problema, mesmo no mais alto nível do governo”, disse Yasheng Huang, especialista em economia chinesa na Escola de Administração Sloan do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Mas “não houve reformas comparáveis”, acrescentou.

Especialistas há muito argumentam que gastos com bem-estar social tornariam a economia da China mais equilibrada e menos vulnerável ao Ocidente. Economistas chineses têm instado o governo a investir em hospitais e pensões, e a ajudar as centenas de milhões de migrantes rurais que vivem nas cidades a se qualificar para benefícios urbanos. Tais medidas são vistas como cruciais para encorajar os cidadãos chineses comuns a economizar menos e gastar mais, contribuindo mais para o crescimento do país.

Alguns especialistas estão até questionando se Xi deveria estar desafiando os Estados Unidos tão agressivamente, em vez de seguir o famoso ditado de um líder anterior, Deng Xiaoping: “Esconda sua força, aguarde seu tempo”.

“A China tornou-se tão ambiciosa sem ainda ter alcançado o status de superpotência”, disse Shen Dingli, um estudioso baseado em Xangai que se concentra nas relações EUA-China.

Shen citou as reivindicações expansivas de Pequim no Mar do Sul da China; a erosão da autonomia de Hong Kong; e a inundação de exportações chinesas que dificulta a competição comercial de outros países. Juntos, eles alienaram grande parte do mundo, contribuindo para o que equivale a um acerto de contas para Xi.

A China já teve um “ambiente externo favorável” para se desenvolver como nação, mas ele vem “se deteriorando”, disse Shen. “É muito lamentável.”

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