A primeira lista de novos investimentos de empresas chinesas no Brasil deve ser anunciada pelo presidente Lula nesta segunda-feira (12), em Pequim, no final de um seminário empresarial organizado pela ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Entre os destaques estão a fabricante de semicondutores Longsys, que vai construir unidades de São Paulo e Manaus; o aplicativo de entrega Meituan, que vai levar ao Brasil seu braço internacional, Keeta; e a rede de sorvetes, chás e sucos Mixue, que se tornou a maior cadeia de fast food do mundo, passando o McDonald’s.
Outros quatro investimentos serão feitos pela Envision, em combustível sustentável de aviação (SAF); pelo grupo Baiyin Nonferrous, na aquisição de uma mina de cobre em Alagoas; pelo DiDi, dono do aplicativo de transporte 99, na eletrificação de veículos; e por três empresas chinesas em parceria com a Nortec Química, para insumos farmacêuticos ativos (IFAs).
Há mais negócios em discussão e que poderão ser incluídos nesta segunda-feira. Um deles, uma parceria entre a Sinovac e a Eurofarma, também já teria sido fechado, segundo um executivo da empresa chinesa ouvido neste domingo (11).
“É impressionante a dinâmica que a relação do Brasil com a China está adquirindo”, diz Jorge Viana, presidente da Apex. “Falei com o presidente hoje. Devemos anunciar investimentos de US$ 17 bilhões [para este ano, no evento]. Isso nunca aconteceu.”
Além da lista citada, ele enfatiza que o investimento na direção contrária também está se acelerando. A BR Foods vai inaugurar uma fábrica na China no próximo dia 15 para produzir hambúrguer, nugget, bacon e outros produtos. “Traz a carne do Brasil, processa e distribui aqui”, descreve.
Viana faz uma conta, reunindo os fluxos de comércio e investimento projetados para este ano entre Brasil e China, para chegar a “um trilhão de reais, a marca trilionária”.
Segundo ele, em três dos investimentos a serem anunciados agora, que tiveram suporte da agência, a Meituan vai chegar a R$ 5,6 bilhões, a Mixue, a R$ 3,2 bilhões, e a Envision, a R$ 5 bilhões.
A nova dinâmica nas relações do Brasil não se limita à China, segundo Viana, creditando parte do movimento ao “mundo de mais incertezas” comerciais resultante da guerra tarifária. “Acabei de fazer um encontro na Europa, também impressionante. Todo mundo quer ter um pouco mais de segurança.”
O seminário em Pequim, que deve ocupar quase toda a segunda-feira da delegação brasileira, foi solicitado à Apex há apenas dez dias, mas já teria atraído 500 representantes de empresas chinesas e 200 de brasileiras, mais do que a lotação.
Das 9h às 18h, falam representantes de grupos chineses como BYD, Cofco e Luckin e autoridades brasileiras como Davi Alcolumbre, presidente do Congresso, e o próprio Lula.
Zhou Zhiwei, especialista em Brasil da Academia Chinesa de Ciências Sociais, instituição acadêmica mais próxima do regime, destaca que “a cooperação em semicondutores é algo que vale muito a pena ser observado”.
Se a China “já explorou o caminho de pesquisa e desenvolvimento independentes nesse campo, o Brasil também tem políticas para promover a indústria de semicondutores, portanto, pode ser uma área prioritária para cooperação científica e tecnológica entre os dois países”.
Citando “o desejo brasileiro de melhorar a independência tecnológica e desenvolver infraestrutura”, inclusive de ferrovias ligado o Atlântico ao Pacífico, Zhou comenta: “Eu espero que esta visita contribua para o acesso do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota”.