/ May 12, 2025

Você trocaria R$ 650 mil por uma promessa? – 11/05/2025 – De Grão em Grão

Parar de trabalhar e, ainda assim, manter uma renda estável é o sonho de muitos. Mas, quando chega perto, a decisão parece mais difícil do que se imaginava. É o caso de uma leitora de 62 anos que me escreveu com a seguinte dúvida: “Posso me aposentar agora com 60% da média dos salários ou devo esperar até os 75 para garantir os 100%?”.

Hoje, ela calcula que esse valor integral seria próximo de R$ 7.000 mensais. É uma dúvida legítima e cada vez mais comum entre quem já contribuiu boa parte da vida e busca segurança para os próximos anos.

A regra da Previdência mudou. Desde a reforma de 2019, o valor da aposentadoria passou a ser calculado com base em 60% da média de todos os salários de contribuição desde 1994, com acréscimo de dois pontos percentuais para cada ano que ultrapasse os 15 anos de contribuição, no caso das mulheres, ou 20 anos, no caso dos homens. Para receber 100% da média, é preciso somar 35 anos de contribuição.

Se essa leitora hoje tem exatamente os 15 anos mínimos, como parece indicar a pergunta, e contribuir por mais 13 anos, até os 75, ela somará 28 anos. Isso daria direito a 60% + (13 × 2%) = 86% da média salarial — e não 100%. Para atingir o valor integral, ela precisaria de mais sete anos de contribuição, ou seja, seguir até os 82 anos. A não ser que ela já tenha hoje pelo menos 22 anos de contribuição, seu plano pode estar baseado em uma projeção imprecisa.

Mesmo assim, vale refletir sobre a essência da dúvida: compensa abrir mão de uma renda menor agora para, talvez, obter um valor maior no futuro?

Na ponta do lápis, se ela se aposentar já com R$ 4.200 mensais, receberá mais de R$ 650 mil até os 75 anos. Essa conta, porém, parte de uma premissa importante: a de que ela continuará trabalhando normalmente mesmo após pedir a aposentadoria, como a legislação permite.

É cada vez mais comum que aposentados sigam com carteira assinada ou atuando por conta própria, somando o benefício do INSS à renda ativa.

Se, no entanto, a aposentadoria significa deixar o trabalho atual, o cenário muda completamente. Nesse caso, ela não estará escolhendo entre R$ 4.200 e R$ 7.000, mas entre sua renda atual integral e o benefício reduzido, o que exige outra avaliação.

E há um risco que poucos incluem na conta: e se as regras mudarem de novo? Diante do déficit fiscal crescente e de um sistema previdenciário cada vez mais pressionado, uma nova reforma não parece improvável. O tempo mínimo pode subir. O cálculo pode mudar. O teto pode ser reduzido.

Esperar demais por uma promessa futura pode ser como subir uma escada rolante ao contrário: por mais que você ande, talvez não chegue lá.

Por isso, talvez o melhor caminho seja equilibrar segurança com autonomia. Aposentar-se agora com uma renda garantida e buscar formas de complementá-la com trabalhos mais leves. Com criatividade e flexibilidade, essa transição pode ser mais suave e mais inteligente do que se imagina.

Se você também está nesse ponto de virada, talvez a pergunta não seja apenas “quanto vou receber?”, mas sim: “Como quero viver os próximos anos?”. Porque, às vezes, o valor que não entra na conta é o que mais pesa: o tempo, a liberdade e a paz de espírito. E esses, como bem sabemos, não se recuperam.


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