Apesar da expectativa de um acordo entre China e Estados Unidos sobre as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, as empresas que atuam em nível global já adequam suas estratégias para um mundo sob as novas regras comerciais.
Na operação latino-americana da RHI Magnesita, fabricante líder em produtos refratários para a indústria, o ambiente é visto como oportunidade para acessar novos mercados, mas também como um risco de que a oferta chinesa seja redirecionada ao Brasil.
“À medida que alguns mercados se fecham, aquela capacidade produtiva precisa ser direcionada a outros países. Se o Brasil não se fecha também, fica muito exposto a essa invasão de refratários chineses. A gente precisa achar caminhos para nos proteger, para sobreviver”, diz à Folha Wagner Sampaio, presidente da companhia na América Latina.
Ele afirmou que as tarifas de importação para refratários no país gira em torno de 6%, enquanto nos EUA é de 25%, mesma taxa do México, país onde a operação da companhia passou a ficar sob o comando do brasileiro em abril deste ano.
Produtos refratários são essenciais para operações industriais de alta temperatura, como aço, cimento e vidro.
O presidente da RHI Magnesita para a América Latina afirma que o cenário de disputas tarifárias também abre oportunidades.
“As empresas cada vez querem ficar menos dependentes de uma fonte única [de suprimentos]. Essa discussão de tarifas também está acordando o mundo para a necessidade de garantia de fontes seguras e alternativas de matérias-primas”, afirma Sampaio.
A China é responsável por cerca de 60% da produção global de magnesita.
O executivo da companhia diz que a mina do mineral da companhia em Brumado, na Bahia, é considerada como a de melhor qualidade do mundo e pode se beneficiar dessa diversificação de investimentos.
“No caso da mineração, a gente vê com muito bons olhos tudo que está acontecendo com o mundo. Nossa exportação de sínter [de magnesita] deve subir pela busca de fontes seguras, ele é de altíssima qualidade e uma alternativa ao fornecimento chinês”.
Em fevereiro deste ano, a empresa inaugurou na cidade o maior forno rotativo da companhia no mundo. Foram investidos R$ 541 milhões no equipamento, que permite um aumento de 25% na capacidade em relação aos fornos verticais da unidade.
Com um faturamento global de 3,6 bilhões de euros (R$ 22,9 bilhões), a companhia é resultado da fusão da austríaca RHI com a brasileira Magnesita em 2017. Ela atua em três frentes: mineração do sínter de magnesita, produção de refratários e prestação de serviços aos clientes.
No Brasil, onde o faturamento é de 335 milhões de euros (R$ 2,1 bilhões), a sede da empresa fica em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde acontece a fabricação de refratários.
Desde abril, a operação da RHI Magnesita na América do Sul passou a contar também com as unidades da América Central, que agregaram uma receita de 150 milhões (R$ 955 milhões) de euros à filial.
Dessa forma, o México se tornou o segundo principal mercado da região, atrás apenas do Brasil. A junção das operações ocorreu por razões de eficiência operacional e pelas culturas dos países serem semelhantes, justifica o executivo.
“A América Latina é a principal região da RHI Magnesita no mundo em termos de produção de matérias-primas”, diz o presidente.
Raio-x | RHI Magnesita
Fundação: RHI em 1834 e Magnesita em 1939. Elas se fundiram em 2017
Funcionários: 20 mil no mundo e 4.040 no Brasil
Faturamento: 3,6 bilhões de euros (R$ 22,9 bilhões)
Principais concorrentes: Vesuvius, Ibar e Shinagawa