A economia deve ter crescido pelo menos 1,5% no primeiro trimestre de 2025, em relação ao trimestre anterior, o final de 2024, dizem estimativas melhores do PIB (Produto Interno Bruto). Recorde-se que o crescimento do primeiro trimestre de 2023, forte, foi de 1,4%. Desde fins de março, as estimativas vêm sendo revisadas levemente para cima.
Sim, o resultado deve ser engordado por um bom desempenho da agropecuária. Ainda assim. No crescimento anual (primeiro trimestre de 2025 ante início de 2024), o agro contribuiria com um quinto do total do avanço. Serviços e indústria ainda teriam resultados positivos.
Sim, há expectativa de que o segundo semestre seja de encolhimento do PIB. O Índice de Confiança Empresarial do Ibre da FGV desceu a níveis de 2023, influenciado por expectativas. A avaliação da situação atual continua razoável, pois a economia se reanimou depois de uma virada de ano mais fraca.
No fim das contas, o ano de 2025 terminaria com crescimento em torno de 2%. Seria bem pior do que os 3,4% de 2024. Mas o Brasil cresceu em média 1,4% ao ano de 2017 a 2019, depois da Grande Recessão, antes da epidemia.
O resultado do primeiro trimestre ainda seria bom inclusive para o investimento (em novas instalações produtivas, máquinas, equipamentos, softwares etc.). O crescimento seria próximo de 4%. Pelo indicador do Ipea, a alta no trimestre encerrado em fevereiro foi de 4,4%.
O bom crescimento do crédito e do emprego ajudaram. Até março, o salário médio continuava a crescer 4% ao ano acima da inflação; a soma de todos os rendimentos do trabalho (“massa salarial”) crescia a 6,6% ao ano.
Mas, apesar do melhor desempenho em mais de década, o ambiente parece de mau humor difuso, que transparece na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e nas expectativas, “de mercado” ou da população.
Um motivo, vez e outra lembrado nestas colunas, é o fato de que o salário não aumentou muito nos últimos cinco anos, apesar da forte melhora recente: do momento anterior ao início da epidemia até agora, 6,5%. Não é lá grande coisa.
O desastre econômico da Covid e a inflação subsequente ainda pesam no bem-estar material, aqui e alhures (o que foi piorado pelo repique da carestia desde meados de 2024).
A gente se ocupa daquele meio ponto percentual da Selic e esquece do médio e do longo prazo, se esquece desses freios do ânimo, por exemplo um motivo importante da volta de Donald Trump, que vira o mundo do avesso.
Juros nos EUA, o valor do dólar, preços de commodities continuam a ter peso grande nas idas e vindas do crescimento do país. No curto prazo, um gasto maior do governo coloca mais lenha na fogueira, por vezes de modo excessivo, como desde 2023.
Não importa muito o que o Banco Central faça: enquanto não se der jeito “no fiscal”, os juros de mercado continuarão altos a perder de vista, encarecendo o investimento, prejudicando a concorrência (criação de novos negócios) e atrasando o país. Sim, há os problemas de funcionamento da economia. Apesar de reformas importantes (tributação, crédito etc.), ainda há muito a fazer e o efeito dessas mudanças leva tempo, como o investimento em pesquisa (falta), planos de inovação (faltam), escola. Afora isso, temos de cozinhar um bom arroz com feijão macroeconômico, tecnicamente o mais simples, politicamente muito difícil. E assim continuaremos a discutir uns poucos décimos de porcentagem nos juros, no PIB etc.