Foi com uma postura quase blasé que a influenciadora Virginia Fonseca revelou na CPI das Bets que uma das suas empresas, a WePink, faturou R$ 750 milhões.
O depoimento serviu para alimentar a imagem que ela gosta de cultuar nas suas redes sociais e que rende a atenção dos seus mais de 53 milhões de seguidores.
Milionária, jovem e mãe, esbanja dinheiro com a compra de jatos modernos, barcos, mansões, joias, festas, viagens, um batalhão de empregados, bolsas de R$ 500 mil e, mais recentemente, um closet do tamanho de um apartamento da classe média.
A exposição de riqueza e luxo deu cliques também para senadores na festa da CPI. Expôs não só a mediocridade do trabalho dos parlamentares como também revela por trás um quadro perverso de tributação no país.
O trabalho minucioso dos jornalistas Felipe Machado Maia e Pedro S. Teixeira, publicado na Folha, mostrou, com dados da Receita Federal, o quanto Virginia, Felipe Neto e outros influenciadores deixaram de pagar em impostos graças ao Perse, um programa com nome pouco conhecido, mas que isenta de tributos federais empresas do setor de eventos.
Na época da reportagem, Virginia declarou que obteve R$ 7,2 milhões em renúncia fiscal com o programa por meio das empresas Virginia Influencer e Talismã Digital. O valor está hoje em R$ 11,8 milhões. O Perse já custou R$ 20,5 bilhões aos contribuintes.
Já é uma incongruência beneficiar, com um programa voltado à retomada após a pandemia, setores que, em muitos aspectos, cresceram durante o período de isolamento. Pior ainda foi ver a prorrogação do incentivo depois do fim da Covid-19 graças ao lobby no Congresso Nacional.
A maior influenciadora do país recebe dinheiro fácil de bets (uma atividade que, embora regulamentada, ainda é subtributada), não paga imposto na pessoa jurídica no Perse e ainda recebe dividendos isentos de tributos.
O Congresso patrocina a festa e não quer discutir seriamente a tributação dos milionários com um imposto mínimo. Virginia e tantos outros agradecem.
