/ May 17, 2025

Empresas e governos tratam sustentabilidade como detalhe – 16/05/2025 – Políticas e Justiça

Vivemos uma crise de governança em todas as esferas. Da improbidade em prefeituras à leniência corporativa com o racismo ambiental, o que se revela é um padrão: a desconexão entre discurso e prática, entre responsabilidade e decisão. Quando o tecido institucional se rompe, são sempre as mesmas pessoas que sangram (as mais vulnerabilizadas, racializadas, empobrecidas). E isso não é acaso, é projeto.

Governança, em sua essência, deveria ser o campo da ética pública e empresarial, o espaço de garantir que decisões sejam tomadas com transparência, equidade e responsabilidade. Mas o que se observa, muitas vezes, são conselhos empresariais reféns da estética da diversidade, sem alterar a estrutura que perpetua desigualdades. Ou administrações públicas que assinam compromissos com os objetivos de desenvolvimento sustentável enquanto licitam obras que expulsam comunidades inteiras sem consulta prévia.

Não há sustentabilidade possível sem um compromisso radical com o social. Quando o “S” das agendas de responsabilidade (que deveria representar as pessoas) é tratado como um detalhe, o ambiental vira ecopropaganda e a governança se resume a compliance performático. Da mesma forma, quando políticas públicas ignoram as realidades de quem vive na linha da pobreza ou nas margens do território, tornam-se meras vitrines de poder, vazias de justiça.

A interconexão entre práticas institucionais e justiça social não é mais uma escolha, é um imperativo. O racismo ambiental, por exemplo, é mais do que uma estatística: ele se materializa no esgoto a céu aberto nas periferias, nas enchentes que afetam sempre as mesmas comunidades, na ausência de políticas habitacionais que respeitem a vida. Governos que negligenciam isso falham em sua governança pública. E empresas que se eximem de responsabilidade ignoram seu papel como agentes políticos de impacto real.

A crise de governança que atravessamos não é só de valores: é de práticas. É a crise de um modelo que tentou conciliar lucro com indiferença. E falhou. O futuro exige outro paradigma. Um que compreenda que decisões corporativas e políticas públicas são parte de uma mesma engrenagem social – e que só haverá legitimidade se o critério central for a vida das pessoas.

Não se trata apenas de indicadores ou relatórios. Trata-se de ética. De entender que as decisões tomadas nas salas de conselho ou nos gabinetes de Brasília têm consequências que atingem corpos, histórias, territórios. E que reconstruir a confiança social passa por desfazer as costuras frouxas de um sistema que abandonou o compromisso com o bem comum.

Governar – seja uma empresa, seja um país (é, antes de tudo, cuidar). E isso começa por reconhecer que justiça social não é uma pauta paralela. É a estrutura de tudo o que, de fato, importa.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço “Políticas e Justiça” da Folha de S. Paulo sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Ana Bavon foi Opinião“, de Zé Keti, Armando Costa e João do Valle, na voz de Nara Leão.


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