A reforma tributária vai se tornar realidade a partir de 2027, independentemente do presidente e dos governadores eleitos no próximo ano. E as empresas que não começaram a se preparar para o novo sistema já estão em desvantagem para enfrentar aquilo que alguns especialistas classificam como uma reforma no modelo de negócios das companhias brasileiras.
Essas são avaliações colhidas pela coluna em conversas com advogados, consultores e profissionais da área tributária de algumas empresas nos últimos meses.
A percepção é que trabalhar com a hipótese de paralisação ou adiamento desse processo se tornou uma aposta de alto risco.
Com as regras definidas pela emenda constitucional de 2023 e pela lei complementar de 2025, a reforma chegou a sua fase “vida real”.
Sai de cena a questão “qual será minha alíquota?”. A pergunta neste momento é: qual será o impacto em termos de fluxo de caixa e resultados financeiros? Conhecer os números é fundamental.
Executivos da área tributária têm partido desse ponto, levado os dados para CEOs e conselhos de administração e dado início a projetos que envolvem diversas áreas, como compras, TI, contabilidade, tesouraria, RH e logística.
O sucesso de uma empresa nessa transição envolve trazer todo o mundo, diz um desses executivos. A culpa por um possível fracasso recairá exclusivamente sobre a área tributária, afirma outro.
O roteiro de tarefas inclui mapear fornecedores, renegociar contratos, rever benefícios a funcionários e planejamentos tributários, adaptar os sistemas de apuração e, claro, separar dinheiro e recursos humanos para executar essas tarefas.
Neste momento, o foco é passar pelo período de transição, do teste de 2026 até a consolidação do sistema no início de 2033, da forma menos traumática possível.
É preciso saber agora, por exemplo, se um benefício fiscal representa praticamente toda sua margem e quais fornecedores dependem de incentivos que serão extintos para garantir preços. Sem essas vantagens tributárias, alguns processos logísticos e estruturas societárias perdem o sentido.
Outros executivos destacam o processo de mudança de preços —alguns fazem a comparação com a introdução de uma nova moeda, como ocorreu com o real e o euro; outros citam as mudanças no PIS/Cofins há mais de 20 anos.
Há quem preveja uma guerra de preços. Outros avaliam que o sucesso do seu negócio depende também do sucesso de clientes e fornecedores. Destacam, inclusive, a importância de discutir com empresas do Simples Nacional a migração delas para o novo sistema, que é opcional.
A terceirização dos processos de avaliação de impacto —e até de praticamente toda a área fiscal— é outra questão enfrentada pelas empresas, em razão de custos e também da abertura de dados estratégicos.
Outro ponto levantado é um possível apagão de mão de obra qualificada na área. Haveria escassez de profissionais para lidar, simultaneamente, com o novo sistema, o antigo e também com as mudanças tecnológicas no mundo tributário. Por outro lado, a simplificação do sistema a partir de 2033 e a automatização de uma série de processos podem levar a um enxugamento nessas equipes, e somente os mais preparados sobreviverão.