/ May 21, 2025

Inteligência Artificial:Quem paga a conta de data centers? – 20/05/2025 – Joisa Dutra

Na semana passada, o governo adiou o lançamento de uma reforma no setor elétrico. Entre seus objetivos estava a redução das tarifas para consumidores de baixa renda. A meta é legítima, mas o desafio é antigo. A MP 579, de 2012, focava redução de preços e tarifas de eletricidade. Mas os aumentos posteriores mostraram que, sem ganhos de eficiência, a conta apenas muda de lugar —como na “meia entrada” do cinema: o desconto para uns é pago pelos demais.

Sem eficiência, não há mágica. A única saída sustentável é repensar o desenho dos sistemas de energia. E, nesse ponto, os data centers —ícones da digitalização e da inteligência artificial (IA)— podem ser mais que um peso para o sistema: podem ser parte da solução.

O avanço da economia digital e da IA vem impulsionando uma nova e potente demanda por energia. Data centers se tornaram ativos estratégicos. O Brasil tenta atrair R$ 2 trilhões em investimentos nos próximos dez anos, e o Ministério da Fazenda anunciou que prepara uma política nacional, com medidas tributárias e regulatórias em estudo. O MME e a EPE acompanham os pedidos de conexão à rede, que poderiam alcançar 20 GW, mas ainda há incertezas. Os modelos de negócio são diversos, nem sempre com um consumidor final claro, e há dúvidas sobre o tamanho real da demanda.

A geografia importa. O Sudeste deve concentrar a maior parte da expansão, com cerca de 60% da demanda da América Latina, enquanto o Nordeste aposta na exportação de energia para outras áreas do país, explorando a competitividade de suas fontes renováveis e o fato de que boa parte dos dados brasileiros é hoje armazenada fora do país.

Ainda assim, a decisão sobre onde instalar exige mais do que apenas geração renovável: requer água, conectividade e sinalização econômica clara dos custos das redes. E o Brasil ainda falha nesse ponto. A transmissão precifica mal a localização dos empreendimentos e as diferenças de preços entre submercados já começam a preocupar empresas.

Outro fator-chave é o custo. Nos EUA, a energia representa de 40% a 70% do custo operacional de um data center (Energy Institute at Haas). No Brasil, esse número deve pender para o valor mais alto, considerando o custo de capital. A boa notícia é que, se bem integrados, esses centros podem ser mais do que apenas grandes consumidores de energia; podem operar como recurso distribuído, e não apenas como carga passiva. Isso é essencial para evitar sobrecarga na rede e investimentos desnecessários que encarecem ainda mais as tarifas.

Estudo da Duke University mostra que as redes elétricas só enfrentam sobrecarga em poucas horas do ano —menos de 1% do tempo. Já os data centers usam em média metade da sua capacidade. Mesmo com o avanço da IA, ainda há espaço para ajustar o uso dessa energia. Se parte dessa carga for flexibilizada —como reduzir o consumo em certos momentos—, é possível aproveitar melhor a rede existente. O estudo estima que isso permitiria acomodar até 70 GW nos Estados Unidos, o equivalente a quase 10% de sua capacidade total. Vale explorar se e como o Brasil também pode seguir esse caminho.

Esse é mais um exemplo de como preços e tarifas que reflitam custos se tornam ferramentas essenciais na busca de preços mais baixos de energia. O sistema de energia do futuro exige mecanismos que estimulem o uso mais eficiente da rede e tornem transparentes os custos, para que as decisões de localização dos empreendimentos e o uso do sistema não gerem lucros privados e prejuízos coletivos.

No Brasil, poucos são os usuários expostos a tarifas que variam no tempo, o que diminui incentivos a reduzir consumo quando o sistema está sob estresse. Em outra frente, a Aneel está para regulamentar a exigência de aporte de garantias para a conexão ao sistema —uma sinalização positiva para separar intenção de compromisso real.

O sistema brasileiro ainda não trata a demanda como um recurso ativo. Mas há precedentes. Em 2001, a saída do racionamento foi viabilizada com forte resposta da demanda. Desde 2021, novos avanços foram feitos, mas falta consolidar um novo modelo. Em uma arquitetura digital e distribuída, é preciso incorporar essa lógica desde a concepção dos projetos. Essa é a única forma de garantir reduções estruturais —e sustentáveis— nos preços e tarifas de energia.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Notícias Recentes

Travel News

Lifestyle News

Fashion News

Copyright 2025 Expressa Noticias – Todos os direitos reservados.