/ May 21, 2025

Novo Nordisk troca CEO após crise e perda de mercado – 20/05/2025 – Mercado

Quando Lars Fruergaard Jorgensen, CEO da Novo Nordisk, entrou em uma videochamada no Teams com o presidente do conselho, Helge Lund, esperava uma conversa de rotina. Em vez disso, como ele mesmo relata, recebeu a notícia de que era a hora de deixar a empresa.

Após uma queda de 53% nas ações em um ano, falhas em testes de novos medicamentos para perda de peso e pressão crescente da concorrente Eli Lilly, a fundação que controla a Novo Nordisk informou ao conselho sua insatisfação com os rumos da companhia.

Na sexta-feira (16), a farmacêutica anunciou a substituição de Jorgensen, o executivo responsável por levar ao mercado dois dos maiores sucessos da indústria na última década: Ozempic e Wegovy, remédios para diabetes e obesidade que se tornaram fenômenos de vendas e cultura pop, gerando US$ 26 bilhões (R$ 147 milhões).

“Respeito a decisão”, disse Jorgensen, de 58 anos, em entrevista. “Acho que isso faz parte do jogo. Não cabe a mim julgar os critérios.”

A mudança surpreendeu o mercado e o próprio executivo. Após a ligação e reuniões presenciais, ficou claro que o conselho queria um novo nome para liderar a empresa, que vem perdendo rapidamente espaço para a Lilly. O concorrente Zepbound demonstrou maior eficácia do que o Wegovy na perda de peso, e a Lilly também lidera a corrida por uma pílula contra obesidade mais potente e fácil de tomar.

O novo medicamento da Novo, o CagriSema —uma evolução do semaglutida, substância-base do Ozempic e do Wegovy—, não atendeu às expectativas da empresa nem dos analistas.

Segundo Lund, a farmacêutica buscará candidatos internos e externos ao cargo de CEO. Em mais de 100 anos, a Novo teve apenas cinco CEOs, todos promovidos internamente. Apesar de afirmar, em teleconferência com analistas, que a estratégia da empresa será mantida, Lund adotou um tom mais flexível em entrevista. “Nosso plano precisa evoluir e se adaptar ao mercado e ao ambiente.”

Lund também enfrenta turbulência na BP, onde anunciou que deixará a presidência após quedas na valorização da empresa e mudanças estratégicas.

MOVIMENTO SEM PRECEDENTES

Na Novo, a saída de Jorgensen é inédita para uma companhia que sempre se orgulhou da estabilidade —e mostra o peso da Fundação Novo Nordisk, maior acionista, com 77% dos direitos de voto.

Antes da ligação, Jorgensen disse sentir pleno apoio do conselho. “Não havia atritos entre gestão e diretoria. Sempre houve consenso sobre as escolhas estratégicas.”

Veterano da empresa, onde fez toda a carreira, Jorgensen assumiu o comando em 2017, liderando a transição do foco exclusivo em diabetes para o tratamento da obesidade. Ozempic chegou aos EUA em 2018; o Wegovy, em 2021.

Com os novos medicamentos, a Novo disparou em valor de mercado. Em 2023, o Wegovy mostrou que também reduz risco cardiovascular —passo crucial para obter reembolso de planos de saúde.

Mas, há menos de um ano, os problemas se acumularam. A empresa teve de defender seus preços no Congresso dos EUA, com Jorgensen sendo questionado pelo senador Bernie Sanders. O CagriSema decepcionou, a Lilly comemorou avanços clínicos e a Novo seguiu incapaz de suprir a demanda pelo Wegovy —o que pode ter contribuído para a migração de prescrições para o concorrente.

“Quando a Novo não entregava doses iniciais do Wegovy, começou a empurrar médicos para o Zepbound”, disse o analista Evan Seigerman, da BMO. “Você só tenta algumas vezes até desistir e mudar permanentemente a prescrição.”

O RETORNO DE SORENSEN

A saída de Jorgensen deve abrir caminho para o retorno de seu antecessor, Lars Rebien Sorensen, que liderou a empresa entre 2000 e 2016 e integrará o conselho a partir de 2025.

A fundação que controla a Novo —a mais rica do mundo, com patrimônio de 1,06 trilhão de coroas dinamarquesas (quase R$ 900 bilhões), o dobro da Fundação Gates— publicou nota de apoio a Sorensen, destacando sua “experiência e visão”.

Para alguns investidores, a baixa atual nas ações representa uma oportunidade. “Acreditamos que a Novo oferece bom valor para quem puder ignorar as incertezas de curto prazo”, disse Mark Ellis, gestor da Nutshell Asset Management, que detém ações da empresa avaliadas em cerca de US$ 8,6 milhões (cerca de R$ 49 milhões).

Já para os funcionários, a saída repentina foi um choque. Em vídeo divulgado pela emissora TV2, colegas aplaudiram Jorgensen ao vê-lo descer as escadas no saguão central da sede da farmacêutica.

“Você foi uma verdadeira referência para todos nós”, escreveu Jacob Petersen, diretor das áreas de diabetes, obesidade e MASH, no LinkedIn.

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