As vendas da rede de lojas Target caíram mais do que o esperado no primeiro trimestre, refletindo o descontentamento de consumidores com o recuo da empresa em políticas de diversidade e o aumento do pessimismo sobre a economia dos EUA.
As vendas em lojas abertas há pelo menos um ano recuaram 3,8% em relação ao mesmo período do ano passado, com menos consumidores visitando —e gastando— nas quase 2.000 unidades da rede. A queda foi a primeira em um ano e superou a previsão de baixa de 1,7%, segundo dados da Visible Alpha.
O CEO Brian Cornell apontou o enfraquecimento do sentimento do consumidor, preocupações com tarifas de importação e a reação negativa à reversão de compromissos com DEI (diversidade, equidade e inclusão) como fatores para o desempenho fraco.
Sediada em Minneapolis, a Target também revisou para baixo suas projeções de vendas e lucro para o ano, anunciou a criação de um “escritório de aceleração corporativa” para melhorar a operação e comunicou a saída de duas executivas seniores, menos de um ano após assumirem seus cargos.
“Quero deixar claro que não estamos satisfeitos com esses resultados”, disse Cornell.
As ações da Target caíram cerca de 7% nas negociações de quarta-feira (21) em Nova York. Antes do balanço, os papéis já acumulavam queda de 28% no ano.
Conhecida por unir estilo e acessibilidade, a rede tem enfrentado dificuldades para recuperar o ritmo de vendas desde a pandemia, em contraste com rivais como a Walmart, que viu suas vendas nos EUA crescerem 4,5% no trimestre, puxadas pelo segmento de alimentos.
O setor de varejo americano também vem sentindo os impactos das tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump sobre importações da China e outros países. A Walmart, por exemplo, foi criticada por Trump após afirmar que teria de reajustar preços para compensar os custos adicionais.
A Target depende da China para cerca de 30% dos produtos de suas marcas próprias. A empresa informou que tentará mitigar os efeitos das tarifas diversificando fornecedores e priorizando itens mais baratos, deixando aumentos de preço como “último recurso”.
A direção da companhia reconheceu os danos financeiros causados por boicotes em resposta ao recuo das políticas de DEI anunciado em janeiro. Embora outras empresas também tenham reduzido iniciativas do tipo, a medida decepcionou consumidores que viam a Target como referência em apoio a causas sociais. Cornell mencionou a “reação às atualizações que compartilhamos sobre pertencimento em janeiro”, referindo-se à nova estratégia de inclusão da empresa.
Líderes de igrejas negras nos EUA planejam protestos em frente a lojas da Target no dia 25 de maio, data que marca cinco anos da morte de George Floyd, assassinado por policiais em Minneapolis, segundo o jornal USA Today.
Em comunicado interno no início de maio, Cornell reconheceu o momento difícil e afirmou que o “silêncio da empresa gerou incertezas”.
Para reconquistar clientes, a Target vem renovando estoques e vitrines, com o lançamento de mais de 10 mil novos produtos neste verão e eventos com brindes gratuitos aos sábados de junho.
O novo escritório de aceleração corporativa terá como missão aumentar a “agilidade e velocidade” da companhia, segundo a Target, e será comandado pelo diretor de operações Michael Fiddelke.
Também foi anunciada a saída de Christina Hennington (estratégia e crescimento) e Amy Tu (jurídico e compliance), que haviam assumido suas funções em julho e agosto de 2024, respectivamente.
A empresa agora prevê uma “queda de vendas de um dígito baixo” neste ano, abandonando a estimativa anterior de alta de 1%. Também reduziu a projeção de lucro ajustado por ação.
A receita líquida do trimestre foi de US$ 23,8 bilhões, recuo de 2,8% na comparação anual e abaixo da expectativa de US$ 24,3 bilhões. O lucro líquido subiu 10%, para US$ 1 bilhão, impulsionado por um ganho pontual de quase US$ 600 milhões referente a um acordo judicial. Excluindo esse fator, o lucro por ação caiu 35,9%.