A detecção de um caso de gripe aviária em uma única granja no Sul do Brasil já tem impactos globais. Vários países, da China à Europa, suspenderam compras de frango brasileiro, pressionando a oferta mundial da proteína mais consumida atualmente.
Principais destinos das exportações brasileiras, como México, Coreia do Sul e China, interromperam embarques após a confirmação do vírus H5N1 em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. Juntas, as nações que impuseram restrições respondem por mais de US$ 4 bilhões anuais em receitas —o equivalente a 40% das exportações totais, segundo dados do governo.
Como maior exportador mundial de carne de frango, o Brasil tem um peso difícil de substituir. O país fornece mais de um terço do volume global, e sua condição de “livre de gripe aviária” vinha garantindo vantagem competitiva sobre concorrentes como os EUA nos últimos anos.
“Quando se retira o maior fornecedor do mundo de cena, os importadores ficam vulneráveis”, disse João Otávio Figueiredo, analista da consultoria Datagro. Segundo ele, os países que suspenderam compras do Brasil podem enfrentar alta de preços em breve.
O consumo de frango cresce em todo o mundo como alternativa mais barata diante da alta da carne bovina. Isso impulsionou os lucros de empresas como BRF e JBS, no Brasil, e da americana Tyson Foods. O USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) projeta que os consumidores devem atingir um recorde de consumo de frango em 2024.
Mas a oferta global está pressionada. A gripe aviária e problemas de fertilidade dos ovos reduziram os volumes disponíveis —e os EUA devem registrar seu menor nível de exportações de carne de frango desde 2015, segundo o USDA. O preço do peito de frango no país já está em US$ 2,77 por libra, o mais alto desde julho de 2022.
Até agora, o Brasil vinha escapando da doença em criações comerciais. O USDA previa que o país responderia por dois terços do crescimento nas exportações globais neste ano. Isso mudou na semana passada, com a detecção do vírus em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. Há ainda casos suspeitos sob investigação em Santa Catarina e Tocantins.
China e Coreia do Sul estão entre os mais impactados. Os dois países dependem do Brasil para mais de 70% de suas importações e adotaram proibições em todo o território. Já países como a Arábia Saudita, que optaram por restrições parciais, devem sentir menos os efeitos.
Na Coreia, a Associação de Produtores de Frango pediu aumento na produção local e o governo solicitou que importadores liberem estoques para o mercado enquanto buscam formas de ampliar a oferta interna. Já as Filipinas, que importam cerca de metade do frango do Brasil, planejam ampliar compras dos EUA, Polônia e Hungria, segundo um representante do governo.
Na China, os preços devem subir no curto prazo, especialmente em itens como pés e asas de frango, mas o impacto deve ser limitado por estoques razoáveis, segundo a consultora SCI99.
A extensão dos prejuízos dependerá da capacidade do Brasil de conter o surto. A região Sul concentra cerca de 75% da produção nacional de carne de frango destinada à exportação.
No ano passado, o Brasil já havia suspendido temporariamente embarques para China e Europa após a detecção da doença de Newcastle. As restrições, porém, foram rapidamente revertidas.
“A solução para os importadores é adotar uma abordagem mais ponderada nas medidas sanitárias”, afirmou Alcides Torres, fundador da Scot Consultoria. “Não há outro fornecedor como o Brasil.”