/ May 23, 2025

Modelos brasileiros de gestão dão bons resultados – 22/05/2025 – Políticas e Justiça

Em 2025, a Gallup confirma algo revelado há vários anos e que deveria chacoalhar as certezas de qualquer executivo brasileiro: a América Latina, apesar de todos os seus desafios estruturais, possui uma das maiores taxas de engajamento no trabalho (31%) e a segunda maior avaliação de qualidade de vida global (54%). Isso supera com folga a média mundial de engajamento (23%) e coloca a região à frente de potências econômicas como Alemanha, França e Japão, onde o engajamento beira os 15% em alguns casos. Mas o que sustenta esse paradoxo? Obviamente não é o PIB ou a estabilidade das instituições.

São fatores relacionais: conexões sociais fortes, senso de comunidade, espiritualidade cotidiana e redes de apoio afetivo que atravessam o ambiente de trabalho. Estes são os elementos reconhecidos pelo World Happiness Report como determinantes da felicidade subjetiva nos países latino-americanos.

Ainda assim, vemos nas grandes empresas brasileiras uma insistência em importar estruturas hierárquicas engessadas, métricas de desempenho que desumanizam e modelos de liderança baseados em controle, eficiência e distanciamento emocional. Estes inspirados, ironicamente, nas mesmas regiões que hoje lideram o ranking do desengajamento e do mal-estar psíquico no trabalho. Há anos estamos importando remédios que não funcionam nem mesmo em seus países de origem.

Claro que não se trata aqui de romantizar a gestão latino-americana. Nossa região convive com altos índices de informalidade, desigualdade, precarização e baixa produtividade estrutural. Além disso, 40% dos trabalhadores latino-americanos ainda dizem estar procurando ativamente um novo emprego, indicando que esse engajamento mais alto não se converte, necessariamente, em retenção ou prosperidade.

Mas ignorar os ativos intangíveis que temos como nossa vocação para o cuidado, o calor humano e a construção de vínculos é desperdiçar o que o próprio relatório da Gallup chama de “potencial humano desbloqueado”. Especialmente num momento em que a Inteligência Artificial ameaça cortar os laços humanos do trabalho, como aponta o mesmo relatório, esses ativos podem se tornar nossa vantagem competitiva mais subestimada.

O desafio agora é este: seremos corajosos o suficiente para construir um modelo de gestão genuinamente latino-americano que una tecnologia, produtividade e humanidade ou seguiremos copiando fórmulas frias e ineficazes, esperando resultados diferentes?

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço “Políticas e Justiça” da Folha de S. Paulo sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Eliezer Leal foi “Chiclete com Banana”, de Jackson do Pandeiro.


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