O Departamento de Justiça dos Estados Unidos está investigando se o Google, da Alphabet Inc., violou a legislação antitruste ao firmar um acordo com a startup Character.AI, especializada em inteligência artificial, segundo fontes com conhecimento do assunto.
De acordo com essas pessoas, que pediram anonimato por se tratar de uma investigação confidencial, autoridades antitruste informaram recentemente ao Google que estão examinando se a empresa estruturou seu acordo com a Character.AI de forma a evitar a necessidade de revisão formal por parte do governo.
No acerto firmado no ano passado, os fundadores da Character.AI se juntaram à equipe do Google, que obteve uma licença não exclusiva para usar a tecnologia desenvolvida pela startup.
Esse tipo de transação é celebrado no Vale do Silício como uma maneira ágil de grandes empresas incorporarem talentos especializados em novas frentes de atuação. No entanto, também vem despertando o alerta de reguladores preocupados com o uso do poder de mercado por gigantes da tecnologia para neutralizar concorrentes emergentes.
“Estamos sempre dispostos a responder a quaisquer questionamentos de reguladores”, disse Peter Schottenfels, porta-voz do Google, em nota enviada por email. “Estamos entusiasmados com a chegada dos talentos da Character.AI, mas não temos participação acionária na empresa, que segue independente.”
Mesmo quando um acordo não exige revisão obrigatória, o Departamento de Justiça pode investigá-lo se houver indícios de que a transação em si tenha efeitos anticompetitivos. O Google, até o momento, não foi acusado de nenhuma irregularidade. A investigação está em estágio inicial e pode não resultar em ações formais.
Procurado, o Departamento de Justiça não comentou. A Character.AI também não respondeu aos pedidos de declaração.
Sob a gestão Biden, o governo americano intensificou o escrutínio sobre práticas competitivas no setor de inteligência artificial, incluindo chips especializados e fornecimento de poder computacional. Como parte desse esforço, autoridades estão analisando se parcerias entre grandes empresas e startups de IA oferecem vantagens injustas para os gigantes da tecnologia, à medida que o setor se consolida.
A Character.AI é conhecida por desenvolver chatbots capazes de simular personalidades reais ou fictícias. Seus fundadores, ex-funcionários do Google, haviam deixado a empresa para criar a startup, mas retornaram no ano passado após o acordo, acompanhados por parte da equipe de pesquisa.
Segundo reportagem da Bloomberg publicada em agosto, o acordo previa que investidores já existentes da Character.AI venderiam suas ações por um valor que implicaria uma avaliação de mercado de US$ 2,5 bilhões. A startup também firmou uma licença não exclusiva com o Google para o uso de sua tecnologia de modelos de linguagem —e continua operando como uma empresa separada.
A investigação civil amplia a pressão antitruste sobre o Google, que já foi alvo de decisões judiciais afirmando que a empresa detinha monopólios ilegais nos mercados de busca online e publicidade digital.
No caso envolvendo a busca online, o Departamento de Justiça propôs que o Google seja obrigado a se desfazer do navegador Chrome como forma de restaurar a concorrência no setor.
Além disso, o governo quer impedir que a empresa pague por posições privilegiadas como mecanismo de busca padrão —incluindo em produtos de IA— e defende que aquisições ligadas a inteligência artificial sejam obrigatoriamente submetidas a análise regulatória, independentemente dos valores envolvidos.
Uma decisão judicial sobre o caso é esperada para o verão (do hemisfério norte).