A primeira coisa que o turista ouve quando começa a passear pelos principais pontos de atração de Palm Beach, no maior condado do estado da Flórida, nos Estados Unidos, é que ali mantêm suas casas nada menos que 65 bilionários. Sim, bilionários, e em dólar.
Um passeio de barco pela orla de South Ocean Boulevard, conhecida como Billionaires’ Row, deixa os conceitos de mansão, palacete ou villa tímidos e curtos. Cada imóvel exposto ali, aberto ao olhar do comum dos mortais, está avaliado na casa das centenas de milhões de dólares. Com estilos ecléticos, pertencem a nomes que vão desde o dono da Oracle, Larry Ellison, ao ator Sylvester Stallone passando pelo atual presidente do país, Donald Trump.
Claro que nem tudo é monetariamente superlativo nos 39 condados que formam o condado de Palm Beaches. Mas uma coisa é certa: ali, o cidadão que cair em busca dos outlets ostensivos de Miami ou das orelhas de Mickey e sua turma onipresentes nos parques de Orlando, vai perder seu tempo. E, de quebra, a oportunidade de conhecer uma das regiões mais interessantes e históricas do estado e do país.
Uma das cidades mais charmosas e fora dos roteiros tradicionais, por exemplo, é a pequena Delray Beach, um oásis de efervescência cultural à beira de um mar absurdamente azul, que foi apontada pelo jornal USA Today e o Travel Channel como “a mais divertida cidadezinha” do país e incluída pela revista especializada em turismo Coastal Living entre as dez cidades de praia mais felizes. E não é à toa.
Ao longo das charmosas ruas de seus 41 quilômetros quadrados, Delray espalha uma interessante mistura de restaurantes e centros culturais, intercalados por uma infindável série de academias e estabelecimentos voltados para saúde e bem estar —estes, a tônica de boa parte das cidades do condado.
É possível em Delray fazer aulas de ioga por apenas US$ 8 a sessão no Museu de Arte Cornell, ou recorrer ao badalado spa de Thammy Fender, localizado no Opal Grand Hotel, onde uma massagem com os produtos desenvolvidos pela própria Thammy custa várias dezenas de dólares, a depender do tratamento escolhido. O foco de Delray é atrair ricos, mas também descolados.
E foram muitos descolados de todos os Estados Unidos que foram para Delray, durante a pandemia de Covid-19, fugindo das restrições geladas dos estados do norte e, principalmente, atraídos por um programa de apoio a artistas que há décadas oferece residência e incentivo em várias atividades e até moradia subsidiada. Atrás da turma das artes, vieram chefs renomados e badalados —e a mistura diferenciada estava pronta.
Com orgulho de ser uma cidade “caminhável”, Delray abriga ainda um monumento à imigração japonesa, os Jardins Japoneses e Museu de Morikami, uma área de 200 acres idealizada dentro do espírito zen, preservada por Sukeji “George” Morikami, que aportou na Flórida no início do século 20 com o objetivo de plantar abacaxis. Não se tem conhecimento de nenhum abacaxi que tenha saído de lá, mas um que outro jacaré que passeia por seus lagos agradece a iniciativa.
De volta a Palm Beach, as boas intenções de um empreendimento agrícola também se encontram na origem da Peanut Island, uma pequena ilha localizada no canal de Lake Worth, construída até o último grão de areia em 1918 com material dragado de uma escavação realizada em Palm Beach.
A ideia inicial era fazer do local uma plantação de amendoins para fabricação de óleo. Mais uma vez não deu certo e o local acabou se tornando uma das praias gratuitas mais procuradas por moradores da região. Chegando cedo, antes do caos de churrascos movidos a muita salsa dos moradores não bilionários de Palm Beach, é possível dar uma gostosa volta pela ciclovia que circunda todos os seus 80 acres e fazer um mergulho de snorkel com água batendo na cintura.
Os peixinhos já estão acostumados com a muvuca e adoram fazer uma presença instagramável até para quem não sabe nadar.
Depois da animação da praia, e para quem não consegue ficar longe de uma vitrine, West Palm Beach Downtown é uma parada obrigatória. Ostentando algumas das mais luxuosas grifes do planeta (lembra dos 65 bilionários?), seus quarteirões desafiam a cotação do dólar para o bolso brasileiro, mas também escondem pequenas vilas com cafés, galerias e surpresas arquitetônicas cheias de flores que ajudam a aliviar o susto de cada etiqueta.
Em restaurantes que têm mesas ao ar livre, como o charmoso italiano Pizza al Fresco, modelos circulam entre os comensais usando as roupinhas mais sofisticadas das lojas das redondezas e convidando para uma visita sem compromisso. É tentação que chama? Com certeza.
A repórter viajou a convite da Discover The Palm Beaches