O bilionário francês Bernard Arnault criticou os esforços da União Europeia para fechar um acordo com os Estados Unidos que reduza as tarifas impostas por Donald Trump, afirmando que as negociações do bloco com Washington começaram com o “pé esquerdo”.
O CEO da LVMH (abreviação para LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton), maior grupo de luxo do mundo e uma das maiores empresas da Europa em valor de mercado, defendeu que a UE adote uma postura mais “construtiva” nas tratativas com a administração Trump, citando como exemplo o Reino Unido, que conseguiu firmar um acordo comercial com os EUA em pouco tempo.
“Os Estados Unidos são o maior mercado do mundo, e é muito importante para a Europa chegar a um acordo com os EUA”, afirmou Arnault em audiência no Parlamento francês nesta quarta-feira (21). “Até agora, as coisas me parecem ter começado relativamente mal.”
No início deste mês, Trump e o primeiro-ministro britânico Sir Keir Starmer anunciaram um acordo comercial entre Reino Unido e EUA, cerca de cinco semanas após o presidente norte-americano anunciar tarifas “recíprocas” que afetaram grandes parceiros comerciais dos EUA, incluindo o próprio Reino Unido.
Já a UE, por contraste, só iniciou conversas detalhadas com os EUA na semana passada, após um longo período de impasse.
A tarifa “recíproca” de 20% imposta por Trump sobre produtos europeus exportados aos EUA foi reduzida pela metade até 8 de julho, como forma de abrir espaço para negociações entre os dois lados.
Arnault declarou: “As negociações precisam ser conduzidas de forma construtiva… e, portanto, com concessões recíprocas. Vocês viram o que os britânicos fizeram: negociaram muito bem. Espero conseguir convencer a Europa, com os recursos e contatos limitados que tenho, a adotar uma postura igualmente construtiva.”
Os Estados Unidos são o maior mercado da LVMH, e a imposição de tarifas representa uma nova ameaça para as vendas da indústria de luxo, que já enfrenta um cenário de desaceleração devido à demanda mais fraca da China, entre outros fatores.
A maior parte dos bens de luxo é fabricada na Europa, e há pouca viabilidade de transferir a produção em larga escala para os EUA —embora Arnault tenha mencionado, no início deste ano, que a LVMH está estudando formas de ampliar sua limitada presença industrial no país.
Arnault mantém uma relação pessoal com Trump, a quem conhece há décadas, e esteve presente na cerimônia de posse do presidente em janeiro.
Até o momento, apenas o Reino Unido conseguiu garantir algum alívio na guerra comercial travada por Trump, ao assegurar uma cota livre de tarifas para exportações de aço aos EUA e uma taxa reduzida de 10% para até 100 mil carros destinados ao mercado americano.
Neste mês, EUA e China também anunciaram uma trégua em sua disputa comercial, reduzindo tarifas mutuamente por pelo menos 90 dias para permitir a retomada das negociações. Trump suspendeu tarifas recíprocas para a maioria dos parceiros comerciais dos EUA, mas manteve uma alíquota básica de 10% sobre importações.
As conversas entre EUA e UE têm avançado lentamente. O bloco europeu afirma que só conseguiu entender com clareza as exigências de Washington na semana passada, quando a administração Trump enviou uma carta detalhando seus pedidos.
Sabine Weyand, principal autoridade comercial da Comissão Europeia, alertou em nota a embaixadores dos países-membros que o bloco não deve ceder à pressão dos EUA por “vitórias rápidas”.
Mas Arnault defendeu que um acordo entre EUA e UE é essencial para setores como o de conhaque francês, que emprega cerca de 80 mil pessoas.
A LVMH é dona da Hennessy, uma das marcas mais afetadas pela queda nas vendas tanto nos EUA quanto na China —onde, em resposta às restrições da UE sobre veículos elétricos chineses, foi aberta uma investigação antidumping.
Segundo Arnault, no pior cenário possível, em que os mercados chinês e norte-americano se fechem ao conhaque, o impacto seria “catastrófico” para a economia europeia, levando à perda de empregos.
“Precisamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, com a Europa, para evitar isso… porque, no dia em que acontecer, será tarde demais”, concluiu.